Na pequena vila de Pedra Negra, cercada por densas florestas, ninguém ousava sair de casa após o pôr do sol. Os moradores sussurravam sobre “A Sombra”, uma entidade que ceifava vidas sem deixar rastros, levando suas vítimas ao cair da noite. Diziam que era mais antiga que a própria vila e que, uma vez marcada, a pessoa estava condenada.
Mariana, uma jovem jornalista em busca de histórias para seu blog, decidiu desafiar as lendas. Ao chegar na vila, ela sentiu o peso de olhares desconfiados. Velhos moradores murmuravam orações e crianças se escondiam atrás das portas ao vê-la.
Ela se hospedou na única pousada do lugar, administrada por um homem carrancudo chamado Geraldo. Ele a advertiu:
— Vá embora antes que seja tarde. A Sombra não tem piedade.
Mariana ignorou o aviso e começou a explorar a vila. Conversou com algumas pessoas que, relutantes, contaram histórias de desaparecimentos. Sempre o mesmo padrão: passos na noite, um sussurro quase inaudível e o vazio no dia seguinte.
Na terceira noite, enquanto revisava suas anotações no quarto, uma corrente de ar gelada atravessou o ambiente. As velas piscaram, e ela ouviu um som: passos leves no corredor, seguidos de um sussurro baixo e rouco.
"Mariana..."
Seu coração disparou. Pegou sua câmera e abriu a porta devagar. O corredor estava vazio, mas o sussurro continuava, vindo do fim do corredor, onde uma janela dava vista para a floresta. Ela seguiu o som, a mão tremendo enquanto segurava a câmera.
Ao chegar à janela, viu algo entre as árvores: uma figura alta e magra, envolta em sombras. Não tinha rosto, apenas uma escuridão pulsante onde deveriam estar os olhos. Mariana congelou, mas a curiosidade foi maior que o medo. Pegou sua câmera e tirou uma foto. No exato momento do clique, a figura virou a cabeça em sua direção.
De repente, a janela explodiu com um som ensurdecedor, e Mariana foi arremessada para trás. Quando recobrou a consciência, estava deitada no chão, a câmera em pedaços ao seu lado. O corredor estava mais escuro que antes, e o sussurro era mais alto, mais próximo.
"Você viu..."
Ela se levantou e correu para o quarto, trancando a porta. Pegou o celular para ligar para a polícia, mas não havia sinal. As velas apagaram, mergulhando o quarto na escuridão total. E então, sentiu.
Algo estava com ela.
A respiração ofegante de outra presença enchia o quarto. Mariana tentou gritar, mas uma mão invisível cobriu sua boca. O último som que ouviu foi o sussurro mortal:
"Agora você é minha."
Na manhã seguinte, Geraldo encontrou o quarto vazio. A cama intacta, as roupas dobradas. Apenas a câmera quebrada permanecia no chão. No visor rachado, uma última imagem: a silhueta da Sombra, olhando diretamente para a lente.
Ninguém nunca mais viu Mariana. Mas, ao cair da noite, quem se atreve a ouvir pode jurar que seu sussurro ecoa pela vila, pedindo ajuda.