No fundo de uma rua deserta, em uma cidade esquecida pelo tempo, havia um hospital abandonado. Suas janelas eram olhos cegos, e o vento parecia sussurrar histórias que ninguém ousava contar. Dentro daquele prédio, a escuridão tinha um cheiro: ferrugem e podridão.
Há anos, uma lenda circulava entre os poucos moradores da região. Diziam que o hospital fechara após uma tragédia, um massacre. Um médico conhecido como Dr. Muniz, outrora um cirurgião brilhante, havia enlouquecido. Ele passou a realizar "tratamentos experimentais" em pacientes desavisados, misturando obsessão por cura com um sadismo grotesco.
Certa noite, Sofia, uma jovem fotógrafa apaixonada por lugares abandonados, decidiu explorar o hospital. Armou-se com sua câmera e uma lanterna. As sombras pareciam dançar enquanto ela caminhava pelos corredores. Cada passo fazia o chão ranger como se o prédio estivesse vivo.
No terceiro andar, encontrou um antigo consultório. A mobília estava revirada, papéis espalhados pelo chão, e uma cadeira de dentista enferrujada dominava o centro da sala. Sofia apontou sua câmera e, ao tirar a foto, ouviu um som: o clique da porta atrás dela sendo trancada.
Virou-se rapidamente, mas não viu ninguém. A lanterna piscou e apagou. Tentou ligá-la novamente, sem sucesso. Na penumbra, sentiu um cheiro forte de éter e ouviu passos lentos, arrastados.
— Você está atrasada para a consulta. — Uma voz grave e rouca ecoou.
O pânico tomou conta. Sofia tentou abrir a porta, mas era inútil. O som dos passos se aproximava. Quando a lanterna voltou a funcionar, iluminou um homem alto, vestindo um jaleco branco manchado de sangue seco. O rosto coberto por uma máscara de gaze, os olhos brilhando como brasas na escuridão.
— Vamos começar. — Ele sussurrou, segurando um bisturi que refletia o pouco de luz que havia.
Ela tentou gritar, mas sua voz morreu na garganta. Correu para o canto da sala, derrubando instrumentos no chão. O médico avançava com calma, saboreando o momento.
Sofia, em um ato de desespero, pegou um pedaço de metal do chão e o usou para quebrar uma janela. Enquanto os cacos de vidro caíam, ela pulou para fora, aterrissando em arbustos espinhosos. Sua perna doía, mas ela não parou de correr até alcançar a rua principal.
Quando finalmente chegou em casa, trancou todas as portas e janelas. Pegou sua câmera para verificar as fotos e provar para si mesma que não estava louca.
Ao olhar as imagens, notou algo que fez seu coração parar. Em todas as fotos tiradas dentro do hospital, o Dr. Muniz estava ao fundo, observando-a.
Na última foto, tirada no consultório, ele estava ao seu lado, com uma mão estendida para ela.
De repente, a luz do quarto apagou.
E a mesma voz grave ecoou na escuridão:
— Você achou que poderia escapar da consulta?