Os funcionários continuavam sendo trocados, e todas as noites ouvíamos gritos saindo de lá. Mas por que todas as comidas de lá eram tão gostosas?
Quando fiz meus quinze anos, marquei com meus amigos de ir comemorar em um restaurante próximo à minha casa. Eu e meus amigos sempre tivemos vontade de ir a esse lugar, devido às histórias que sai sobre ele e também pelos gritos que todas as noites ouvimos vindo de lá. Para ser sincera, nem sempre esse restaurante foi tão assustador assim. Os gritos só começaram quando a dona do estabelecimento se casou pela segunda vez com um homem de outra cidade, e logo ela sumiu. Os policiais ainda estão atrás dela, mas não há pistas do que realmente aconteceu, apenas alguns boatos que indicam que ela caiu da ponte e foi parar no rio que tem aqui perto, mas nada foi comprovado. Desde então, seu esposo cuida do restaurante e sempre troca de funcionários, o que é estranho.
Quando chegaram às oito e meia da noite, todos nós nos encontramos em frente ao restaurante. Olhamos uns para os outros e o que se passava na minha cabeça era o que eu estava fazendo ali, eu não gostaria de morrer no dia do meu aniversário. Senti um arrepio subindo pela minha espinha enquanto o vento soprava forte nas árvores. Então, senti meus pés ficarem pesados e pensei em voltar para casa. Dando um passo para trás, Mas minha amiga Natty notou meu medo e me puxou para dentro do restaurante. Entramos e nos sentamos à mesa seis, ao lado da janela. Não demorou muito para uma garçonete super atenciosa vir nos atender. Eu e meus amigos fizemos o mesmo pedido: lasanha de carne e macarrão ao molho da casa. Não demorou muito até que nosso pedido chegasse, então não pensamos duas vezes para experimentar, já que o cheiro estava muito convidativo. Para minha surpresa, a comida estava ótima. Soltei um grande sorriso ao colocar mais uma garfada daquela lasanha em minha boca. Sem dúvida, nunca tinha experimentado uma lasanha tão boa em minha vida. Levantei minha cabeça e olhei para os meninos, que estavam em silêncio, o que era estranho. Perguntei como estava o macarrão, e eles falaram com um olhar confuso:
– Está muito boa – disse Rian.
– É estranho – disse Lukas.
– Sim, estranho – disse Caleb.
– Estranho? O que tem de estranho? E por que essas caras?
– Vick, apenas escute – disse Natty.
No silêncio, eu me calei, prestando atenção a cada detalhe e som, mas apenas conseguia ouvir o barulho do vento nas árvores e o ranger da porta.
– O que aconteceu? – perguntei intrigada, quando de repente, um grito de socorro ecoou de dentro da cozinha e eu parei.
Todos olharam com cara de espanto enquanto o esposo da dona Marieta, que sumiu, saiu de dentro com um olhar espantado, dizendo que iria fechar o estabelecimento, pois tinha acabado de levar um susto e não estava se sentindo muito bem. Ele pediu da forma mais calma que conseguia para que todos se retirassem.
– Gente! Vamos sair daqui! – falei, e todos olharam para mim e acenaram.
Pegando minha bolsa e deixando o dinheiro em cima da mesa, quando levantei minha bolsa, vi um bilhete embaixo dela e o peguei rapidamente, correndo para fora daquele lugar. Quando chegamos a uma distância razoável do restaurante, começamos a conversar sobre como aquilo foi estranho, e eu abri minha mão, que estava com o bilhete, e comentei sobre. Nós nos sentamos em um banco e comecei a abri-lo. No bilhete, estava escrita a seguinte mensagem:
"Socorro ele vai matar todos nós."
Soltei o bilhete, sentindo o pânico daquilo que acabei de ler, e meu amigo Rian o pegou e leu para todos em voz alta, fazendo com que todos nós nos arrepiarmos e trocássemos olhares de aflição.
– Gente, isso é gravíssimo! Temos que avisar a polícia – Natty falou enquanto se levantava do banco em que estava sentada.
– Também acho que precisamos fazer algo – falou Caleb, e Lukas acenou com a cabeça, concordando.
– Gente, por favor! Está tarde, é melhor irmos para casa – falei com minha voz trêmula, transmitindo o medo que estava sentindo.
– Eu também acho melhor irmos para casa, mas amanhã às 17:30, após acabar as aulas nos reunimos aqui e vamos resolver se vamos chamar a polícia ou investigar isso melhor antes – falou Rian.
Todos nós concordamos e fomos para casa. Eu apenas tentei, mas não consegui pregar o olho naquela noite.
Na manhã seguinte, uma sensação de inquietação estava solta no ar. Enquanto me preparava para a escola, com meus olhos ardendo por causa da noite ruim que tive, não conseguia parar de pensar isso ficava apenas me torturando com a imagem daquele bilhete. O que poderia estar acontecendo no restaurante? O que realmente havia acontecido com a dona Marieta? A cada lembrança dos gritos, mais perguntas vinham à minha mente e um nó se formava em meu estômago.
Depois da aula nos reunimos como combinado no mesmo lugar e decidimos ir ao restaurante novamente. A ansiedade e o medo tomavam conta de mim enquanto caminhávamos na direção daquele lugar assustador. O sol começava a se pôr, deixando apenas um céu laranja e enevoado. Ao chegarmos, percebemos que o restaurante estava fechado, mas uma luz fraca escapava pelas janelas, exalando um aroma de alho fritando.
– Vamos dar uma olhada – sugeriu Rian, dando alguns passos à nossa frente.
Mesmo com todo medo, todos nós concordamos. Caleb pegou no trinque da porta e abriu levemente. Entramos no lugar e o cheiro estava ótimo, várias misturas de temperos.
Assim que entramos, ouvimos um sussurro vindo da cozinha. Cautelosamente, nos aproximamos e ao olhar pela porta entreaberta, vimos o marido da dona Marieta com os olhos arregalados, falando sozinho. Ele gesticulava suas mãos como se estivesse tentando explicar algo para alguém.
– O que ele está fazendo? Ele é um louco total! – sussurrou Natty.
– Precisamos nos aproximar dele – disse Rian.
Ao escutar essa fala de Rian, senti minhas veias saltarem e meu coração bombear mais do que o normal.
Quando entramos na cozinha, a cena diante de nós era incompreensível. O homem estava cercado por panelas, com molhos e comidas, e frutas jogadas pelo chão. Também havia um livro em sua frente que ele lia descontroladamente. Ao notar nossa presença, ele parou e olhou para nós com seus olhos arregalados.
– O que estão fazendo aqui? – Ele soltou um grito ensurdecedor, dando para ver as veias de seu pescoço saltarem. Mas em seus olhos surgiram lágrimas, fazendo de seu grito mais um pedido de ajuda do que uma ameaça.
– O senhor está bem? – perguntei, com um olhar curioso, escondendo o pavor que estava sentindo naquele momento.
Ele se afastou e entre aquela expressão perturbada e misteriosa, começou a falar:
– Eu não sei o que fazer! A comida... o restaurante... o meu amor... as pessoas. Eu preciso mantê-los seguros! Eles precisam de mim! Eu tenho que dar um jeito!
– Quem precisa de você? – perguntou Caleb.
– Minha esposa! Minha família! Eles estão em algum lugar e preciso trazê-los de volta. A comida é a minha última chance de conseguir. – ele começou a chorar, parecendo uma criança.
– Você precisa chamar a polícia! – disse Lukas.
– Não! Vocês não entendem! Eu preciso de dinheiro para resgatá-los... eu preciso... ou vou perdê-los.
Toda aquela situação estava sendo horripilante! Eu não sabia como agir ou como reagir. Era tão assustador! A sensação de que eu tinha que fazer algo, a sensação de responsabilidade sobre aquilo era muito pesada. Podíamos senti-la no lugar. Natty não parava de andar de um lado para o outro em meio a toda sujeira que estava naquele ambiente.
– E se nós tentássemos ajudá-lo? Vamos encontrar sua família – falou Natty enquanto nossos olhos se arregalavam ao olhar para ela.
– Ajudar? Ajudar como? Está maluca, Natty? – soltei um grito, olhando profundamente em seus olhos.
– Vamos ouvi-los e ver o que podemos fazer.
O homem sem esperar duas vezes começou a desabafar o que guardou há um ano.
– Aquele homem começou a me perseguir após eu me casar com a ex-mulher dele. Ele era meu melhor amigo, eu sei. Mas eu amava a mulher dele com toda minha alma, e eles não tinham mais nada. Eles terminaram. Eu me aproximei dela e ficamos juntos, mas ele começou a me ameaçar, e não só a mim, como a minha família também! Ele invadiu nossa casa enquanto eu estava aqui no restaurante e minha esposa sozinha. Ele a levou! Ele a levou e também levou meus pais. Ele sempre foi um maníaco, já até ficou internado por anos em um hospital psiquiátrico, mas ele tinha ficado bem. Eu achei isso! Então nunca imaginei que meu melhor amigo faria algo assim. Eu errei... foi minha culpa, eu sei. Mas agora ele está mantendo eles em cativeiro esse tempo todo. Ele disse que só vai deixá-los ir quando eu der a ele os oitocentos mil que ele me pediu. Mas é muito dinheiro, e eu só tenho mais cinco meses para conseguir esse dinheiro.
– Cara, por que você não contou isso à polícia? Você é maluco ou o quê? – Lukas grita tão alto que sua fala ecoa pelas paredes.
– Ele me ameaçou! Falou que se eu dissesse algo à polícia, mataria eles. Eu tive medo! Sou fraco!
– Olha, você não pode deixar mais isso assim! Você tem algum contato com esse cara? – perguntei, confusa e com raiva.
– Sim, eu tenho um número que ele usa às vezes para me ligar.
– Escuta! Vamos à polícia agora mesmo! Você não tem escolha – fala Natty.
O senhor olhava para a gente, transmitindo todo o desespero e sofrimento que ele tinha passado durante aquele ano todo sozinho. Após vários minutos de choro, ele enfim concordou, mas ainda com muito receio. Fomos para a delegacia.
Quando chegamos, não poupamos detalhes do que havíamos descoberto, pois o senhor não conseguia dizer uma única palavra. Os policiais logo perceberam a gravidade da situação e rapidamente com o número que o homem nos entregou, conseguiram rastrear a localização do sequestrador, que estava escondido em uma casa abandonada a mais de duas horas de distância de onde estávamos.
A polícia de forma ligeira, descobriu muita coisa sobre esse psicopata, e ele não tinha nenhuma ficha de assassinato, então resolveram ir o mais rápido possível fazer o resgate. Pegaram todos os equipamentos e se prepararam. Sem demora, já estávamos dentro do carro da polícia. A ansiedade e o desespero eram notáveis entre mim e meus amigos.
Ao chegarmos à casa, os policiais se posicionaram todos em silêncio e nos passando ordens. Quando o sinal da polícia foi dado, a porta foi arrombada de forma brusca. A imagem que vimos ao abrir a porta era estranha: aquele homem com olhos cerrados, ao lado de vários alimentos estragados que fediam muito, e móveis derrubados pela casa.
– Parado aí! – gritou um policial, apontando para o homem.
Ele virou-se com seus olhos cheios de ódio e loucura. Em fração de segundo, puxou uma faca e correu até o quarto onde estavam a dona Marieta e os demais.
– Afaste-se! Você não vai levá-los! – gritei, olhando nos olhos daquele homem, sem saber de onde surgiu tanta coragem em mim.
Aquele homem louco avançou em minha direção com a faca. No mesmo momento, senti como se meu mundo tivesse acabado ali mesmo e apenas coloquei a mão em meu rosto, mas por sorte, os policiais pularam em cima dele e conseguiram pegá-lo.
O marido da dona Marieta, com seus olhos fixos em sua esposa, começou a lacrimejar e caiu no chão de tanto choque, enquanto sua família veio abraçá-lo. Mas o sequestrador não parou e começou a falar enquanto debatia-se entre os policiais:
– Você me roubou a única pessoa que eu tinha! Eu quero uma família!
– Pare! Essa é a forma que você quer ter uma família? – gritou o marido da dona Marieta, olhando para o maníaco.
– Eu a amo! Eu a amo! – respondeu o maníaco.
– Se esse é o amor que você tem a oferecer, você deve estar tão podre quanto essas comidas que estão pelo chão.
O maníaco começou a gritar enquanto os policiais o arrastavam para fora, prendendo e o levando.
A cena dentro daquela casa obscura tornou-se de emoção ao ver o reencontro da dona Marieta com seu esposo e a família do senhor Vicente.
Depois de muitas lágrimas rolando naquele lugar e da alegria solta, voltamos todos para casa a salvo.
Depois de alguns meses do acontecido, ao ver o restaurante com o raio do pôr do sol refletido em frente a ele, percebi que aquele lugar, que era de terror para mim, se tornou um lugar de valorização e admiração. Mesmo em situações horríveis como essa, o amor, a fé e a amizade devem estar à frente, sempre brilhando mais que um diamante e mantendo-se firme como uma estrela grande e brilhante.