3. Unidade Interior e Liberdade Criativa
Os diferentes cenários do mundo da literatura fantástica parecem permitir total liberdade, não se sujeitando às regras da realidade como nos romances realistas. Na verdade, quanto mais distante do mundo real, mais necessária se torna a identidade interna da própria literatura, pois ela não tem um contexto real para se apoiar ou se esconder, tornando tanto o mundo como um todo quanto cada parte mais suscetíveis à crítica e questionamento por parte do leitor.
A construção de um mundo mítico (incluindo novas mitologias criadas pelo autor) requer a adoção de um sistema coerente, capaz de atender às exigências da sua identidade interna e, ao mesmo tempo, estar em harmonia com as origens e regras do mundo que o criou, absorvendo e aplicando diversos elementos encontrados em outros mundos. A mitologia é um mundo fechado, que possui leis unificadas e coerentes, com o criador e as divindades que ele criou sendo os protagonistas, governando a criação e funcionamento daquele mundo. Na mitologia bíblica, é Deus quem cria o mundo e as diversas raças a partir do vazio, enquanto na mitologia nórdica, Odin constrói a estrutura do mundo a partir dos corpos dos gigantes mortos, sendo que Deus e Odin criam e governam seus respectivos mundos. Suas existências são claramente contraditórias e opostas, um negando a existência do outro. No mundo real, diferentes organizações religiosas, instalações e pessoas podem coexistir, mas em um mundo mítico, a presença de personagens como Deus, os sete arcanjos, os anjos caídos e os demônios significa que se trata de um sistema mitológico bíblico, enquanto a presença simultânea de figuras exclusivas da mitologia nórdica, como Odin, elfos e anões, significa que existe uma quebra na coesão do sistema desse mundo. A menos que seja uma atividade de subversão intencional, isso significa uma violação do requisito de identidade interna, e é uma subversão de sua própria existência.
Criar um mundo amplo, original e com uma estrutura rigorosa requer que o autor tenha habilidades de macro estruturação e se aprofunde na pesquisa de clássicos literários globais para aproveitar experiências úteis. Desacelere, antes de tornar o protagonista o governante do mundo, permita que o autor, o "criador", se torne uma pessoa que compreende completamente e claramente, construindo uma base sólida antes de erguer um arranha-céu. Nos próximos capítulos desta aula, usaremos vários tipos comuns de histórias como exemplos, explicando detalhadamente como construir sua ambientação.