Como transformar seus personagens em algo mais do que apenas palavras escritas e fazer com que os leitores sintam que eles são pessoas reais? No capítulo anterior, já construímos uma casca completa para os personagens, agora é hora de dar a eles interioridade e emoções. Leve em consideração as seguintes dicas para tornar seus personagens mais envolventes para o público.
1. Sofrimento
O sofrimento é uma lâmina de dois gumes. Tanto o personagem que sofre quanto aquele que causa o sofrimento são mais memoráveis e impactantes.
Pode ser um sofrimento físico ou um tormento emocional. Mostrar grandes traumas psicológicos ou físicos sofridos pelo personagem pode aumentar significativamente o envolvimento emocional do leitor. No entanto, é importante lembrar que o apelo do sofrimento não está na descrição minuciosa do sofrimento em si, mas sim na representação cuidadosa das causas do sofrimento e de suas consequências. Cenas sangrentas só sufocam o leitor e chorar e lamentar resultam em desprezo. No entanto, mesmo com poucas palavras, se você conseguir mostrar o quanto de amor o personagem perdeu antes disso, ou o quanto de confiança o personagem traído depositou antes disso, o sofrimento do personagem será poderoso. Se você mostrar como o personagem lida com a dor, recusando-se a ceder a ela, então os leitores também vão chorar por ele. Outra regra é que, se um personagem chorar, nem sempre o leitor vai chorar; mas se um personagem poderia chorar, mas não o faz, é muito provável que o leitor chore.
2. Sacrifício
As escolhas feitas pelo personagem também influenciam fortemente a intensidade emocional do sofrimento para o leitor. Uma jornalista que está investigando um caso de crime relacionado ao seu namorado da máfia e tem que escolher entre o amor pela pessoa que cometeu erros ou a sua integridade profissional. Quando o público a vê abrir mão do amado por questões de consciência, ocorre um grande impacto emocional, muito maior do que se ela perdesse o amado por razões externas. O doloroso sacrifício realizado para objetivos maiores gera um impacto emocional muito mais forte do que a própria dor em si.
3. Perigo
O perigo é a ameaça antecipada de danos e perdas. Como qualquer pessoa que já tenha ido ao dentista pode comprovar, a ansiedade em relação à dor que antecede a experiência é mais torturante do que a dor física em si. Quando o personagem está ameaçado, o público naturalmente é atraído por ele. Quanto maior o perigo e a vulnerabilidade do personagem, maior a atenção do público.
Lembre-se, somente quando o público acredita que o evento de terror pode realmente acontecer é que a tensão aumenta. Nos antigos dramas de enredo, as situações de perigo geralmente eram absurdas: o protagonista amarrado a um poste, se aproximando cada vez mais de uma serra elétrica, ou a heroína presa nos trilhos do trem enquanto um trem se aproxima em alta velocidade. Mas naquela época, o público sabia que o contador de histórias não permitiria que o protagonista fosse realmente serrado ou que a heroína fosse atropelada pelo trem, porque isso não estava de acordo com as convenções estéticas da época.
Quando os escritores perceberam que essas situações absurdas de perigo não eram críveis e até mesmo ridículas, eles mudaram de estratégia. Eles pararam de se esforçar para encontrar situações de perigo mais absurdas e começaram a usar ameaças simples que se tornaram realidade. Quando o autor fez o vilão queimar a mão do protagonista com um cigarro aceso pela primeira vez, o público ficou tenso e uma fronteira foi ultrapassada. Esse vilão não apenas ameaça verbalmente, mas também age. Assim, sua próxima ameaça é crível. E é a credibilidade da ameaça que a torna uma ferramenta poderosa para criar tensão e conflito.
4. Tensão Sexual
A tensão sexual está relacionada à ameaça. Na verdade, você pode chamá-la de "ameaça sexual", a menos que o próprio personagem tenha um desejo sexual desmedido. A tensão sexual desempenha um papel crucial na história, tanto que o termo "romance" é usado especificamente para esse tipo de história. O amor romântico não tem limites. Sempre que um homem e uma mulher se encontram em uma história, esperamos que haja uma possível relação romântica entre eles. Se um personagem já desempenha um papel importante na vida do outro desde o início, especialmente quando ambos desempenham um papel importante em suas emoções negativas respectivas, a tensão sexual aumentará. Por exemplo, uma relação de competição, desprezo, raiva, etc., faz com que o leitor sinta que há uma possibilidade de romance. Quanto mais intensas são as emoções negativas, maior a tensão sexual. A tensão sexual pode atrair o interesse dos espectadores. No entanto, há roteiristas de séries de TV que ficam frustrados ao perceber que quando os personagens finalmente se envolvem sexualmente, a tensão sexual desaparece. Isso é diferente da violência, que faz o vilão parecer crível e pode prepará-lo para sua próxima ação mal-intencionada. Porém, o resultado da satisfação sexual é semelhante à morte da vítima em perigo. Pelo menos para o personagem, a tensão sexual desapareceu. Portanto, em um romance, se o casal principal expressou seu amor um pelo outro, o autor deve encerrar a história ou criar ameaças externas para complicar o romance deles.
5. Conflito Interno
Os melhores romances geralmente contam a história de uma mudança profunda em algum aspecto do personagem. Uma pessoa egoísta aprendendo a pensar nos outros, uma mulher materialista finalmente se casando por amor, um workaholic que coloca mais tempo com a família em primeiro lugar, uma senhora reclusa finalmente se abrindo.
Gostamos de ver personagens mudar porque todos estamos mudando o tempo todo. Já experimentamos a sensação dolorosa, mas libertadora, de passar por mudanças, especialmente quando a mudança traz coisas boas e emocionalmente benéficas para nossas vidas.
Para que o protagonista tenha uma mudança profunda, você precisa criar para ele um conflito interno.
5.1 Exemplos de Conflito Interno
Aqui estão alguns exemplos de conflitos internos de romances literários, filmes e da vida real:
●Resmungar, achar que Deus e o mundo são injustos;
●Medo da solidão (devido ao abandono na infância);
● fazer tudo para obter a aprovação da mãe;
●Juramentos de vingança;
●Medo de compromisso (devido ao divórcio dos pais);
●Acumulação compulsiva de roupas e objetos (devido à Grande Depressão);
●Não deixar as crianças brincarem (porque deixar as crianças brincarem causou mortes);
●Suportar a violência (porque os pais eram violentos e ele pensou que era a maneira correta de amar);
●Gostar de ficar sozinho (porque alguém em quem ele confiava o machucou);
●Sentir-se inútil, perdido, sem valor.
Tenha uma ideia? Você precisa causar danos ao seu personagem, dar-lhe uma falha trágica ou um “vício profundamente enraizado”. Resumindo, destrua a vida original do personagem.
5.2 Escolha
Na sua história, qual é o resultado final para o protagonista? Toda a história serve para guiar a protagonista a um momento crítico de decisão, onde ela tem que escolher entre a redenção e a destruição, e o que acontece a seguir é a consequência. Na sua história, o protagonista escolheu uma nova vida e conquistou felicidade e paz na vida? Ou ele pulou no abismo da destruição eterna porque fez uma escolha errada?
Os leitores querem ver a protagonista fazer a escolha certa, mas não importa qual seja sua escolha, o resultado final é extremamente atraente para o leitor. Como espectador, observar os outros fazendo escolhas e depois colher as consequências, sejam os frutos doces ou amargos, é extremamente atraente.
Talvez seja por isso que lemos romances.