Capítulo 3 — O Salão Roubado

Aurora chegou ao salão com o coração disparado. O carro estacionou diante da fachada imponente, decorada com flores brancas e douradas, como ela mesma havia sonhado meses antes. O buquê repousava em seu colo, mas suas mãos estavam tão frias que mal sentia o contato das pétalas. Era como se o tempo tivesse perdido o ritmo, arrastando-se de forma cruel, obrigando-a a encarar cada detalhe como uma lembrança amarga.

A cada passo que dava para fora do carro, ouvia o som dos saltos ecoando contra o chão como batidas de martelo em um coração já trincado. A entrada estava movimentada, os funcionários corriam de um lado para o outro, mas o que mais chamou sua atenção foi o olhar constrangido de um deles, que desviou os olhos assim que a viu. Aurora franziu o cenho. Havia algo errado.

Respirou fundo e ergueu o queixo. Precisava se manter firme. O vestido branco esvoaçava ao vento leve da tarde, e por um instante ela tentou se apegar à ideia de que aquele ainda era o seu dia, de que, de alguma forma, conseguiria transformar a tragédia em renascimento.

Mas tudo desmoronou assim que atravessou as portas de vidro.

O salão, que deveria estar tomado pelas flores que escolhera, pelos arranjos que montara com tanto carinho, agora parecia ter sido invadido por outra vida. Havia detalhes em tons de rosa suave, fitas peroladas, um arco ornamentado que ela jamais pedira. O coração dela se apertou. Reconhecia aquela estética. Reconhecia cada detalhe.

E, no fundo do corredor, estavam eles.

Levi. Vestido em um terno impecável, o mesmo que deveria usar ao lado dela. Ao seu lado, Yasmin, em um vestido claro, sorrindo como se fosse a dona do mundo.

Por um segundo, Aurora acreditou que estava delirando. Que a mente pregava uma peça cruel, que era apenas fruto do cansaço e da dor. Mas não, era real. Levi segurava a mão de Yasmin, e ambos observavam os arranjos com a naturalidade de quem acreditava ter direito àquilo.

Aurora parou no meio do salão. O coração bateu tão forte que ela temeu que todos pudessem ouvir. Sua respiração falhou, e a voz lhe escapou num sussurro quase inaudível:

— Não... isso não pode ser real.

Mas Levi a viu. Os olhos dele se arregalaram, não de culpa, mas de irritação. Como se ela fosse a intrusa ali. Yasmin, ao contrário, sorriu satisfeita, apertando ainda mais o braço dele, como quem quisesse exibir sua vitória.

— Aurora... — Levi disse, a voz carregada de impaciência. — O que você está fazendo aqui?

Ela piscou, incrédula.

— O que eu estou fazendo aqui? — repetiu, a voz embargada. — Este é o meu casamento, Levi! Este é o meu dia!

Yasmin soltou uma risada baixa, quase debochada, e passou a mão pelo braço dele como quem acaricia um troféu.

— Acho que há um mal-entendido, querida — disse ela, com aquela doçura fingida que Aurora sempre soubera que era puro veneno. — Este é o nosso dia. Levi me explicou tudo. Você deve estar confusa.

Aurora deu um passo à frente, sentindo o chão tremer sob seus pés.

— Confusa? — repetiu, sentindo a indignação crescer dentro dela. — Eu planejei cada detalhe, paguei cada centavo desse lugar. O contrato está no meu nome, a decoração, as flores, tudo isso foi pensado para o meu casamento!

Levi respirou fundo, como se buscasse paciência.

— Aurora, você precisa parar. Eu sei que está magoada, mas... Yasmin não tem muito tempo. Ela merece esse momento. Você não pode ser egoísta.

As palavras atingiram Aurora como uma bofetada. Egoísta? Depois de tudo que fizera por ele, de cada renúncia, de cada lágrima? Ela engoliu o nó que se formava em sua garganta, tentando não desabar diante deles.

— Eu merecia esse momento — respondeu, a voz trêmula, mas firme. — Eu estive ao seu lado quando ninguém mais estava, Levi. Eu aguentei todas as suas fases ruins, todos os seus medos. E agora você me rouba até o altar?

O silêncio que se seguiu foi pesado. Alguns funcionários, constrangidos, fingiam estar ocupados, mas seus olhares denunciavam o desconforto. Yasmin, porém, não se abalou.

— Talvez você merecesse... — disse ela, baixinho, mas o bastante para Aurora ouvir. — Mas eu fui a primeira. E sempre seria a última.

Aurora sentiu o ar lhe faltar.

Levi se aproximou dela, mas não para consolá-la. Seu olhar era frio, quase autoritário.

— Vá para casa, Aurora. Não torne isso mais difícil do que já é.

Aurora respirou fundo e se forçou a erguer a cabeça. Se Levi queria vê-la destruída, não teria esse prazer.

— Vocês podem ficar com suas mentiras, com essa encenação barata e com o peso da culpa que um dia vai sufocá-los. — A voz dela saiu firme, surpreendendo até a si mesma. — Mas este salão, este dia, não são de vocês. Eu não vou entregar o que é meu.

Yasmin arqueou as sobrancelhas, pronta para retrucar, mas não teve tempo. As portas se abriram atrás de Aurora, e um silêncio surpreso tomou conta do salão.

Rafael Monteiro entrou. O terno preto bem cortado acentuava seus ombros largos, e o olhar seguro contrastava com a expressão arrogante de Levi. Ele tinha uma presença magnética, algo que fazia todos ao redor instintivamente se voltarem para ele. Mesmo aqueles que não o conheciam sentiram a mudança no ar.

Aurora prendeu a respiração. Por um instante, o tempo pareceu parar.

— Perdão pelo atraso — disse Rafael, a voz grave, imponente, ressoando por todo o salão. — Espero que não tenham começado sem mim.

Ele caminhou até Aurora com passos firmes, ignorando Levi e Yasmin como se fossem sombras sem importância. Ao alcançá-la, tomou sua mão com naturalidade, como se aquele gesto fosse destino, e não improviso.

— Sou Rafael Monteiro, e estou aqui para casar com a noiva — anunciou, olhando diretamente para os convidados que começavam a se aglomerar ao fundo. — Hoje é o nosso dia.

Um murmúrio percorreu o salão. Levi empalideceu, o maxilar travado pela fúria e pela incredulidade. Yasmin tentou sorrir, mas o brilho de triunfo desapareceu de seus olhos. Ao lado de Rafael, a figura de Levi parecia menor, menos vibrante, quase apagada.

Aurora não conseguiu evitar. Mesmo em meio à dor e à confusão, sentiu-se respirar de novo. Rafael não apenas tinha aparecido. Ele havia reivindicado sua história.

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Comments

Ana Paula

Ana Paula

Começando hoje 10/09/25 amei a história apesar ter está com outros nomes dos protagonistas

2025-09-11

0

Santina Costa

Santina Costa

Não estou entendendo, onde entra Isadora e Heitir?

2025-09-11

0

Dulce Gama

Dulce Gama

adorei autora linda poxa autora posta mais estou adorando muito sua história está linda maravilhosa 👍👍👍👍👍🌹🌹🌹🌹🌹🎁🎁🎁🎁🎁❤️❤️❤️❤️❤️🌟🌟🌟🌟🌟

2025-09-12

0

Ver todos
Capítulos
1 Prólogo
2 Capítulo 1 — O Fim Antes do Começo
3 Capítulo 2 — O Anúncio
4 Capítulo 3 — O Salão Roubado
5 Capítulo 5 — O Peso do Sim
6 Capítulo 6 — A Casa que a Acolheu
7 Capítulo 7 — Entre Sombras e Luz
8 Capítulo 8 — O Nome nas Manchetes
9 Capítulo 9 — Vozes Contra e a Voz Dentro
10 Capítulo 10 — Entre Confissões
11 Capítulo 11 — Ecos de Aproximação
12 Capítulo 12 — O Lado de Dentro do Vento
13 Capítulo 13 — A Linha de Fogo
14 Capítulo 14 — A Verdade à Luz do Dia
15 Capítulo 15 — Vozes do Contra
16 Capítulo 16 — A Boca da Serpente
17 Capítulo 17 — Vozes que Querem Silenciar
18 Capítulo 18 — Quando o Vento Traz Areia
19 Capítulo 19 — Rota Segura
20 Capítulo 20 — Telhas e Tempestades
21 Capítulo 21 — Ecos de Retaliação
22 Entre Mentiras e Confissões
23 Capítulo 23 — A Voz que Não se Cala
24 Capítulo 24 — O Peso das Escolhas
25 Capítulo 25 — O Golpe Sujo
26 Capítulo 26 — Tinta que Não Cola
27 Capítulo 27 — Vozes que Não se Vendem
28 Capítulo 28 — Ecos no Ministério
29 Capítulo 29 — Portas Abertas
30 Capítulo 31 — O Som da Escuridão
31 Capítulo 32 — Ecos da Invasão
32 Capítulo 33 — Assinaturas da Sombra
33 Capítulo 34 — Quando a Verdade Ganha Voz
34 Capítulo 35 — O Dia em que o Silêncio Mudou de Lado
35 Capítulo 36 — O Contra-ataque nas Sombras
36 Capítulo 37 — O Atentado à Luz do Dia
37 Capítulo 38 — A Justiça se Move
38 Capítulo 39 — A Queda Anunciada
39 Capítulo 40 — O Peso Que Cai
40 Capítulo 41 — O Amanhã que Começa Hoje
41 Capítulo 42 — A Inauguração
42 Epílogo — O Que Fica de Pé
43 Epílogo II — Cinco Anos Depois
Capítulos

Atualizado até capítulo 43

1
Prólogo
2
Capítulo 1 — O Fim Antes do Começo
3
Capítulo 2 — O Anúncio
4
Capítulo 3 — O Salão Roubado
5
Capítulo 5 — O Peso do Sim
6
Capítulo 6 — A Casa que a Acolheu
7
Capítulo 7 — Entre Sombras e Luz
8
Capítulo 8 — O Nome nas Manchetes
9
Capítulo 9 — Vozes Contra e a Voz Dentro
10
Capítulo 10 — Entre Confissões
11
Capítulo 11 — Ecos de Aproximação
12
Capítulo 12 — O Lado de Dentro do Vento
13
Capítulo 13 — A Linha de Fogo
14
Capítulo 14 — A Verdade à Luz do Dia
15
Capítulo 15 — Vozes do Contra
16
Capítulo 16 — A Boca da Serpente
17
Capítulo 17 — Vozes que Querem Silenciar
18
Capítulo 18 — Quando o Vento Traz Areia
19
Capítulo 19 — Rota Segura
20
Capítulo 20 — Telhas e Tempestades
21
Capítulo 21 — Ecos de Retaliação
22
Entre Mentiras e Confissões
23
Capítulo 23 — A Voz que Não se Cala
24
Capítulo 24 — O Peso das Escolhas
25
Capítulo 25 — O Golpe Sujo
26
Capítulo 26 — Tinta que Não Cola
27
Capítulo 27 — Vozes que Não se Vendem
28
Capítulo 28 — Ecos no Ministério
29
Capítulo 29 — Portas Abertas
30
Capítulo 31 — O Som da Escuridão
31
Capítulo 32 — Ecos da Invasão
32
Capítulo 33 — Assinaturas da Sombra
33
Capítulo 34 — Quando a Verdade Ganha Voz
34
Capítulo 35 — O Dia em que o Silêncio Mudou de Lado
35
Capítulo 36 — O Contra-ataque nas Sombras
36
Capítulo 37 — O Atentado à Luz do Dia
37
Capítulo 38 — A Justiça se Move
38
Capítulo 39 — A Queda Anunciada
39
Capítulo 40 — O Peso Que Cai
40
Capítulo 41 — O Amanhã que Começa Hoje
41
Capítulo 42 — A Inauguração
42
Epílogo — O Que Fica de Pé
43
Epílogo II — Cinco Anos Depois

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