Aurora não dormiu naquela noite. O travesseiro úmido de lágrimas ainda guardava o gosto amargo da traição. O vestido continuava pendurado no canto do quarto, imaculado e zombeteiro, lembrando-a do que jamais aconteceria.
O sol mal havia surgido quando ela pegou o celular e encarou a tela. Centenas de mensagens explodiam: ligações de Levi, justificativas sem fim de Marina, áudios de amigos em comum fingindo surpresa e até notificações da própria família adotiva, que sempre parecia mais interessada no escândalo do que em seu sofrimento.
Aurora respirou fundo. Não deixaria que continuassem invadindo seu espaço. Um por um, começou a bloquear. Levi foi o primeiro, depois Marina, e em seguida cada amigo cúmplice, cada contato que ela sabia estar rindo de sua dor. Bloqueou todos. E quando terminou, o silêncio do aparelho foi quase libertador.
Mas o vazio dentro dela crescia. Aquilo não podia ser o fim.
Abriu a rede social, encarou a caixa de texto em branco e, com os dedos trêmulos, digitou:
"Procura-se noivo para hoje. Alguém disponível?"
Ela clicou em publicar sem pensar duas vezes. O coração disparou.
Em segundos, o celular explodiu em notificações. Curtidas, comentários, compartilhamentos. Pessoas estranhas, conhecidos, alguns debochados, outros cheios de solidariedade. Uns ofereciam “ajuda”, outros faziam piada.
Aurora fechou os olhos. Parte dela se arrependia, mas outra parte sentia um gosto estranho de liberdade. Pela primeira vez, não estava apenas chorando.
Então uma mensagem privada apareceu.
Aurora piscou várias vezes, sem acreditar. Rafael, colega de faculdade, amigo de risadas rápidas nos intervalos, cúmplice de resumos em semanas de prova. Tinham perdido contato logo depois da formatura, quando Levi entrou em sua vida.
"Você está falando sério? Se sim, me manda o endereço. Quero estar aí hoje."
O coração dela gelou.
— Não, ele só pode estar brincando… — murmurou.
Digitou, apressada:
"Rafael, isso foi um impulso. Não é hora para brincadeiras."
Mas a resposta veio em segundos:
"Não estou brincando, Aurora. Você não merece passar por isso sozinha. Se você me quiser ao seu lado, eu vou. Só me diga onde e a que horas."
Ela engoliu em seco. O casamento estava marcado para as 17h. O salão já estava preparado, os convidados já tinham recebido convites, e ela deveria estar lá — ainda que sozinha.
Era insano. Absolutamente insano. Mas o que não era, naquela altura?
Com a respiração entrecortada, Aurora digitou o endereço e horário. Enviou antes que pudesse se arrepender.
O celular caiu sobre a cama, e ela passou as mãos pelo rosto, sem acreditar no que acabara de fazer.
As horas seguintes foram um turbilhão. Aurora tomou banho com pressa, secou os cabelos ainda úmidos e, como em um transe, abriu a caixa onde estava o vestido. A visão do branco perfeito lhe trouxe uma pontada de dor, mas ela não desviou. Vestiu-se sozinha, fechando cada botão com determinação, como se costurasse de volta a própria dignidade.
Quando terminou a maquiagem diante do espelho, já não viu apenas uma mulher traída. Viu alguém que não desistiria de si mesma.
O celular vibrou outra vez.
"Estou a caminho."
Aurora sorriu de leve. Rafael não estava blefando.
Pela primeira vez desde que descobriu a traição, sentiu uma chama de esperança.
Pouco depois, quando o carro que a levaria ao local chegou, Aurora respirou fundo e subiu. A cidade passava rápido pelas janelas, indiferente ao drama que a consumia.
Ela ainda não sabia se Rafael realmente apareceria. Mas, de uma coisa, tinha certeza: jamais deixaria Levi acreditar que havia destruído sua vida.
E naquele mesmo dia, diante de todos, uma nova história começaria.
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Atualizado até capítulo 43
Comments
Dilma Melachos
mulher arretada.
2025-09-18
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Dulce Gama
autora parabéns sua história está ótima estou adorando muito Aurora agiu bem tomara que não se arrependa 🌟🌟🌟🌟🌟❤️❤️❤️❤️❤️🎁🎁🎁🎁🎁🌹🌹🌹🌹🌹👍👍👍👍👍
2025-09-12
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