Curativos
As pessoas chora ao meu redor, beijam o corpo frio no caixão, arrependimentos por não terem ajudando a mulher quando mais precisava. O mundo precisava dela, das suas mãos de deusas curando qualquer necessitado, mas o mundo a ignorou quando ela gritou por ajuda
Ao invés de chorar por ter perdido minha mãe barra pai, irrito-me por notar o quão hipócrita as pessoas podiam ser
Mentirosos. Batiam na porta de casa pedindo por algo, mas não perguntavam se ela precisava de alguma coisa. Solteira, desempregada, perturbada para alimentar o caçula e agir que tinha tudo sob controle, sendo que nada estava indo bem
Eduarda
Mateus, sei que não é hora de falar disso, mas... agora serei responsável por você — 𝐀𝐠𝐚𝐜𝐡𝐚 𝐧𝐚 𝐦𝐢𝐧𝐡𝐚 𝐟𝐫𝐞𝐧𝐭𝐞
Eduarda é minha irmã mais velha. Atualmente não mora mais comigo, quer dizer, morava, pois, julgando pela semblante de luto e perdida, sinto que terei que aceitar a mudança que o universo tem aguardado
Ela se casou aos 16 anos com uma mulher mais velha que ela. Minha mãe aceitou a loucura, afirmando que Carla, minha cunhada e atual esposa de Eduarda, daria a vida que ela não podia para sua filha
Talvez mãe não esteja errado nesse ponto, já que estão anos casadas e felizes
Minha irmã usava roupa preta, calça, blusa e sapatos sociais. Seu cabelo liso e bagunçado solto passando dos ombros, não tinham forças de se mexer com a energia do ambiente que pesava as células de tudo
E tudo por conta desses desgraçados mentirosos
Mateus
Nunca vi eles — 𝐑𝐞𝐦𝐞𝐱𝐨 𝐧𝐚 𝐜𝐚𝐝𝐞𝐢𝐫𝐚, 𝐫𝐞𝐯𝐨𝐥𝐭𝐚𝐝𝐨 — A trouxa da mãe deu tudo o que tinha para aquele cara, e nem chorar ele é capaz
Eduarda
Mateus, sei que posso ser um pouco revoltando, também não conheço metade dessas pessoas. Pode ser colegas antigos, antes de nós a mãe tinha uma vida — 𝐀𝐛𝐫𝐞 𝐦𝐢𝐧𝐡𝐚 𝐦𝐞𝐧𝐭𝐞. 𝐒𝐮𝐚 𝐦𝐚̃𝐨 𝐝𝐞𝐥𝐢𝐜𝐚𝐝𝐚 𝐭𝐨𝐜𝐚 𝐧𝐨 𝐦𝐞𝐮 𝐣𝐨𝐞𝐥𝐡𝐨, 𝐚𝐜𝐚𝐫𝐢𝐜𝐢𝐚𝐧𝐝𝐨 𝐥𝐞𝐯𝐞𝐦𝐞𝐧𝐭𝐞 — Agora somos só eu e você
Mateus
E a Carla — 𝐂𝐨𝐧𝐜𝐥𝐮𝐨
Eduarda
E a Carla. É legal onde moro. Vai ter um quarto só pra você, fará novas amizades, posso te levar a praia todo final de semana — 𝐒𝐨𝐫𝐫𝐢, 𝐭𝐫𝐢𝐬𝐭𝐞 — A mãe adorava que tomávamos café à mesa, a família inteira reunida. Ela não podia, mas tentava — 𝐅𝐮𝐧𝐠𝐚. 𝐋𝐢𝐦𝐩𝐚 𝐨 𝐧𝐚𝐫𝐢𝐳 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐦𝐮𝐝𝐚𝐫 𝐚 𝐯𝐨𝐳 𝐝𝐬 𝐜𝐡𝐨𝐫𝐨
Não tinha forças para derrubar uma lágrima. Talvez a mente não reconheceu o corpo dentro do caixão de madeira, o grito feminino ecoando em casa de madrugada, a sensação de não ter uma mulher linda, de cabelos pretos, segurando minha mão
Passos tiram nosso foco do assunto. Eduarda sente alívio em ver rostos familiares e próximos. Levanta, correndo, buscando refugo no abraço do irmão da falecida, no nosso tio, padrinho e um anjo para metade dos nossos problemas. Sussurros rolam entre eles e lágrimas caem como cachoeira
Reconheço a família sem o brilho de00 felicidade no dia a dia deles. Passo o olho na duas loiras, apático no comprimento. Minha visão se prende a menina de macacão jeans, blusa rosa por baixo, tênis brancos e rabo de cavalo com baby hair
Desço do banco, cego pela dor, louco para relembrar a máxima temperatura daquele abraço, pensativo que nunca mais sentirei um abraço caloroso da minha mãe. Caminho até ela, e num piscar de olhos, afogo-me nela, pousando a cabeça no seu ombro, respirando profundamente seu doce perfume feminino
Sou conrespondido na hora, sentindo seus braços grandes e finos perder meu corpo pequeno. Não é como na primeira vez, desajeitado e tímido, temos mais intimidade dessa vez, um carinho de amigos, empatia pelas perdas um do outro
Abraçados, calados, esquecemos o mundo. Ela me aperta mais. Afogo mais no seu cheiro, viciando-me como um alcoólatra nas bebidas. Não consigo me afastar, desejo entrar dentro dela, morar nesse abraço para sempre, viver dele
Isabela
Meus sentimentos, Mateus - 𝐐𝐮𝐞𝐛𝐫𝐚 𝐨 𝐧𝐨𝐬𝐬𝐨 𝐬𝐢𝐥𝐞̂𝐧𝐜𝐢𝐨, 𝐬𝐮𝐬𝐬𝐮𝐫𝐫𝐚𝐧𝐝𝐨 𝐧𝐨 𝐦𝐞𝐮 𝐨𝐮𝐯𝐢𝐝𝐨
Aceno a cabeça, permanecendo mais tempo no meu novo lar
Nem na morte da minha mãe, estou livre dos dramas da Mônica. Sinceramente, amo minha prima, a única que considero como irmã, mas é impossível aturar ela e seus surtos
Infelizmente, ela surtou por ter abraçado sua amiga ao invés dela. Tia Simone afastou ela de mim, pois sabia que não estava com cabeça para nenhum assunto desnecessário
Isolado no pátio, sentado, buscando conforto nas lembranças daquele abraço, uma pontada aguda atinge meu peito. Mordo os lábios para aguentar o que previa para vim, não havia mais espaço para escolher, mas precisava segurar até o final do enterro ou a volta para a casa
Henrique
Sinto muito pela sua perda!
Engulo o choro, vendo o garoto, que julgo ser da minha idade, sentar-se ao meu lado. Ele vestia uma calça jeans e camiseta da banda de rock, Queen. Seu tênis é um All Star simples desbotado
Se não fosse pelo estilo tenebroso desse garoto, podia jurar que somos irmãos. Nossas características semelhantes como: lábios finos, cabelo liso, pálpebras relaxadas, sobrancelhas grossas e por fazer, até a ponta do nariz. Algumas características dava indícios que não éramos gêmeos, mas genes semelhantes
Henrique
Nem eu. Meu pai me forçou a vim falar com você — 𝐄́ 𝐬𝐢𝐧𝐜𝐞𝐫𝐨
Henrique
Ele sumiu — 𝐕𝐨𝐥𝐭𝐚 𝐚 𝐨𝐥𝐡𝐚𝐫 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐟𝐫𝐞𝐧𝐭𝐞
Um silêncio surge entre nós
Henrique
Nunca tive mãe — 𝐃𝐞𝐬𝐚𝐛𝐚𝐟𝐚, 𝐞𝐧𝐜𝐚𝐫𝐚𝐧𝐝𝐨 𝐨 𝐜𝐡𝐚̃𝐨 — Morei com minha avó por um tempo, pois o meu pai não gostava de mim. Ele voltou quando nem da sua voz lembrava mais. Depois disso, ele se esforçou para estar mais presente na minha vida
Mateus
E o que tenho a ver com isso?
Henrique
Não sei. Nos filmes, as pessoas contam seus problemas para as outras ficarem bem
Mateus
Você pelo menos tem um pai, nem isso tenho — 𝐑𝐢𝐨, 𝐭𝐫𝐢𝐬𝐭𝐞 — Traga minha mãe de volta, assim me sentirei bem
Henrique
Sinto muito! — 𝐋𝐚𝐦𝐞𝐧𝐭𝐚-𝐬𝐞
Mas quem quebra dessa vez sou eu
Mateus
Quero ser seu amigo
Henrique
Moro em outra cidade. Vai ser legal vim te visitar
Henrique
Meu pai quebrou bêbado
Henrique
Ele não é bom, mas também não é ruim. É equilibrado os ternos
Henrique
Não sei. É pecado, mas preferia ficar sozinho, já que ele não foi capaz de me dar uma mãe
Mateus
E a minha não foi capaz de me dar um pai
Henrique
Posso perguntar uma coisa?
Henrique
Aquela menina é sua namorada?
Henrique
Sabe muito bem de quem estou falando
Isabela é uma ótima companhia quando Mônica não está por perto, ela é amiga, verdadeira, risonha, gosto das suas brincadeiras internas comigo
Desde o primeiro dia que a vi na casa dos meus pai, enxerguei ela diferente, alguém que não fosse amiga da sua prima, e sim, só minha. Ela pode não me enxergar assim, compreendo perfeitamente, mas não muda o fato que a qualquer comando seu, faria como um cachorro rendido
Mateus
Não, é amiga da minha prima
Henrique
Se um dia se casar, posso ser padrinho?
Mateus
Vai ser legal te apresentar para meus melhores amigos
Matamos o tempo se conhecendo melhor. Por pouco minutos, sei sua cor favorita é azul marinho, sua comida é macarrão da sua avó e bebe muito suco de limão. Sua banda preferida é o Queen e cantor, Freddie Mercury
Nossos assuntos rendiam. Ele tinha o mesmo poder da Isabela, me fazer esquecer das coisas, e isso foi bom, muito bom, porque choraria muito se estivesse sozinho como antes
Henrique, meu nome melhor amigo, se despede de mim quando Eduarda vem me buscar, anunciando que o pastor chegou para concluir a parte final do velório. Implorei para que ele ficasse mais tempo, mas não aconteceu, dizia que seu pai ia bater caso aparecesse quando da fachada do caixão
E isso me enfureceu. Não conhecia, mas já odiava o pai de Henrique. E muito
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