Meu refúgio

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17 𝐀𝐍𝐎𝐒 𝐀𝐓𝐑𝐀́𝐒
Mamãe não veio me buscar, o que é costume, porque ela sempre me esquece. Não fico triste, apenas magoada por ver todos os meus colegas irem embora, ficando isolada sem nenhuma companhia além de professoras loucas para viverem suas vidas
Sinto um incômodo quando outra família vem me buscar. Um casal feliz com uma filha divertida, eles comentam sobre os dias um do outro, escutam com atenção, fazem piadinhas internas
E estou aqui, presa por um cinto de segurança no banco de trás, observando a paisagem do lado de fora da janela
Quero a minha mamãe e o meu papai
Simone
Simone
Amor, me deixa no mercado. Vou preparar uma janta muito especial hoje! — 𝐂𝐨𝐦𝐞𝐧𝐭𝐚 𝐜𝐨𝐦 𝐚 𝐯𝐨𝐳 𝐚𝐥𝐞𝐠𝐫𝐞
Simone
Simone
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Mônica
Mônica
Mamãe, mamãe — 𝐎 𝐜𝐡𝐚𝐦𝐚, 𝐩𝐮𝐥𝐚𝐧𝐝𝐨 𝐧𝐨 𝐜𝐚𝐫𝐫𝐨, 𝐬𝐞𝐦 𝐨 𝐜𝐢𝐧𝐭𝐨 𝐝𝐞 𝐬𝐞𝐠𝐮𝐫𝐚𝐧𝐜̧𝐚 — Faz macarrão. Batata frita. E muito sorvete — 𝐏𝐮𝐥𝐚 𝐦𝐚𝐢𝐬 𝐚𝐥𝐭𝐨 — Eu e Isa adoramos sorvete de chocolate!
Mônica
Mônica
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Simone, mãe de Mônica, ri junto com o Ricardo, o motorista e pai de Mônica. Os dois são um casal de novelas, aqueles que estranham da tamanha perfeição que exalam pelas ruas
Tia Simone é legal, ela já me deu aula na minha antiga escola. Lembro da sua paciência e sorriso carismático me ensinando utilizar uma tesoura. Nas contas matemáticas, então, nem se fala. Mônica e eu chorávamos no banheiro, abafados para não sermos pegas no flagra
Mas não havia jeito, titia Simone sempre descobria e consolava com um passeio na sorveteira
O tio Ricardo não é diferente da esposa, ele e o meu pai são melhores amigos, assim como eu e Mônica. Gostava quando era folga do papai, ele em levava para brincar com Mônica, enquanto os dois matavam o tempo bebendo e falando de assuntos de homens
Tio Ricardo é tão bonzinho, tão bonzinho, que no dia que quebrei, sem querer, seu quadro de formatura, ele me deu um abraço e disse que estava tudo bem
Não. Não estava tudo bem. Chorei litros naquele dia. Papai até ficou com vergonha das visitas e deixou de frequentar a casa dele
O carro estaciona no estacionamento vago. Continuo encarando o vidro, mesmo enxergando uma parede cinza desbotada e com gramas verdinhas. Ouço barulho de cinto sendo retirado, beijos e informações sendo trocadas, porém, não mexo um músculo sequer
Ricardo
Ricardo
Me liga quando terminar
Ricardo
Ricardo
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Mônica cai no meu colo, assustando-me
Mônica
Mônica
Tá quieta, por quê? - 𝐒𝐨𝐫𝐫𝐢 𝐝𝐞 𝐨𝐫𝐞𝐥𝐡𝐚 𝐚 𝐨𝐫𝐞𝐥𝐡𝐚 - Vai comer a comida da mamãe
Respondo com um riso frouxo, deixando-a confusa
Nunca confessaria que gosto de comer a comida da tia Simone, o prazer que ela sente em cozinhar, os temperos que ela entrega nos alimentos, a rapidez no modo de preparo. São características marcantes das habilidades dela. Porém, a comida da mamãe é cem vezes melhor. Não importa se mamãe bebe mais do que cozinha, ou se irrita quando queima ou seu planejamento sai do controle, mamãe deixa Simone no chinelo
Minha melhor amiga taca um beijo na minha bochecha, mostrando que não importa o que aconteça, ela sempre entenderá e estará no meu lado
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Tomei banho, vesti um vestido verde escuro largo que tampa meus joelhos, expondo meus pés com as unhas pintadas de nude e as canelas hidratadas
Estou sozinha no quarto da Mônica, ela preparou tudo para mim, enquanto banhava no meu banheiro instalado no próprio quarto de princesa. Sua cama era um castelo rosa, com Barbie e princesas da Disney decorando os cômodos bem detalhados do castelo
As bordas do material se caracterizava com um dourado forte, uma cor que conseguia enxergar através do escuro. Os móveis do castelo tinham cores que não combinava com o rosa claro das paredes nem o rosa escuro do telhado. As cores primárias são do guache que Mônica ganhou da escola e pintou tudo com a minha ajuda nas férias
Sua cama é forrada com um lenço da Cinderela, sua princesa favorita. Os travesseiros são os ratos da obra, e na parede, acima do telhado do castelo, os pássaros estão colados de forma que parecesse que voam mais alto
Tudo da Mônica exala sua princesa favorito. Ao lado do espelho retangular, contornado com as luzes de led, um figura enorme da própria Cinderela se destacava na parede
Somos tão diferentes em alguns aspectos do nosso quarto
Uma batida no quarto me assusta. Corro para guardar todas as minhas roupas usadas na mochila, vestindo apenas a sandália transparente e brilho nela
Isabela
Isabela
Ah, é só você — 𝐀𝐛𝐫𝐨 𝐚 𝐛𝐨𝐜𝐚, 𝐦𝐨𝐬𝐭𝐫𝐚𝐧𝐝𝐨 𝐝𝐞𝐜𝐞𝐩𝐜̧𝐚̃𝐨
Isabela
Isabela
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O menino de camisa e bermudas preta, exibe suas duas janelinhas em cima e três em baixo. Mas o sorriso se desfaz rapidamente
Não sabia como o ler sua expressão, mas como papai diz: um gatinho assustado das próprias travessuras
Mateus
Mateus
Vai dormir aqui?
Mateus
Mateus
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Isabela
Isabela
Ninguém veio me buscar
Mateus
Mateus
Ia gostar de você dormir aqui
Isabela
Isabela
Você vai?
Mateus
Mateus
Sim. Gosto de dormir nos meus tios, eles me deixam livres
Isabela
Isabela
Quero a minha casa
Mateus
Mateus
O que quer fazer enquanto espera a comida ficar pronta?
Balanço os ombros
Isabela
Isabela
Não sei. Espero que meus pais venham me buscar logo
Sua expressão fica mais triste
Isabela
Isabela
O que foi?
O primo de Mônica, Mateus, nega nosso contato visual, admirando o piso madeirado, tímido
Mateus
Mateus
Posso te dar um abraço? — 𝐏𝐞𝐝𝐞, 𝐬𝐮𝐬𝐬𝐮𝐫𝐫𝐚𝐧𝐝𝐨
Engolo um seco
Papai diz que não posso rezar em nenhum menino antes dos dezoito anos, caso isso acontecer, vou ficar de castigo
Mas Mateus não é um menino. Quer dizer, ele é, mas sob meus olhos, ele não passa de um primo da minha melhor amiga. E se papai me colocar de castigo, é porque ele sabe. Significando que não posso abrir minha boca pra ninguém
Isabela
Isabela
Pode — 𝐀𝐜𝐞𝐧𝐨 𝐚 𝐜𝐚𝐛𝐞𝐜̧𝐚
O menino tímido dá um passo a frente, ainda com a cabeça baixa. Outro passo. Mais um. Depois outro. No último passo, ele levantar o olhar, não perdendo tempo em encarar tudo em mim
Um arrepio invade meu corpo, liberando uma timidez que não sabia que existia dentro de mim
Seus braços se abrem, prendendo-me dentro deles. Um calor expande entre nós. Minhas bochechas queimam, corpo enfraquece, coração se agita mais. A sensação de estar naqueles braços curtos e magros é aliviador, esconde a falta dos meus pais e me obriga a chamar seu abraço de lar. Um lugar protegido e acolhedor
Ficamos abraçados, quietos, confortáveis na presença um do outro por cinco minutos. Os melhores cinco minutos que já tive. Mateus não reclama do tempo, pelo contrário, aperta mais meu corpo, como se quisesse nos misturar por inteiro
Mônica
Mônica
Mateus, o que está fazendo? — 𝐆𝐫𝐢𝐭𝐚, 𝐧𝐨𝐬 𝐚𝐬𝐬𝐮𝐬𝐭𝐚𝐧𝐝𝐨
Perturbados por sermos pego no flagra, finalizamos o abraço. Não por queremos, já que passaríamos horas e horas parados no centro do quarto, agarradinhos. Porque Mônica nos separa, puxando meu braço para perto de si e afastando do seu primo
Passamos pela porta. Eu, medrosa com a sua reação furiosa, porém, triste por não querer ter saído do casulo de calor
Mônica me joga contra a parede, bato as costas, gemendo pela pitada de dor causada no impacto. Ela aperta meu braço esquerdo, penetrando seus olhos azuis em mim, ardentes, sedento por irá e ciúmes
Mônica
Mônica
Isabela, você é a minha amiga — 𝐋𝐞𝐯𝐚 𝐨 𝐩𝐨𝐥𝐞𝐠𝐚𝐫 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐩𝐨𝐧𝐭𝐚 𝐝𝐨 𝐦𝐞𝐮 𝐧𝐚𝐫𝐢𝐳 — E Mateus é meu primo — 𝐀𝐩𝐫𝐨𝐱𝐢𝐦𝐚 𝐬𝐮𝐚 𝐛𝐨𝐜𝐚 𝐧𝐨 𝐦𝐞𝐮 𝐫𝐨𝐬𝐭𝐨 — Não chega mais perto dele, por favor. Conversarei com ele, não posso aceitar que tentam criar um vínculo que eu não esteja envolvida
Isabela
Isabela
Mônica... — 𝐓𝐫𝐞𝐦𝐨. 𝐍𝐮𝐧𝐜𝐚 𝐯𝐢 𝐌𝐨̂𝐧𝐢𝐜𝐚 𝐬𝐞𝐧𝐝𝐨 𝐝𝐨𝐦𝐢𝐧𝐚𝐝𝐚 𝐩𝐞𝐥𝐚𝐬 𝐞𝐦𝐨𝐜̧𝐨̃𝐞𝐬, 𝐞𝐥𝐚 𝐬𝐞𝐦𝐩𝐫𝐞 𝐞́ 𝐦𝐮𝐢𝐭𝐨 𝐜𝐚𝐥𝐦𝐚 𝐞 𝐦𝐞𝐧𝐭𝐞 𝐚𝐛𝐞𝐫𝐭𝐚 𝐜𝐨𝐦𝐨 𝐨 𝐩𝐚𝐢 — Mateus só me deu um abraço. Sinto falta dos meus pais e ele me consolou
Ela quebra o contato visual, como seu primo fez comigo no quarto, como se... se soubesse de algo que eu não saiba dos meus pais
Mônica
Mônica
Não gosta de mim?
Isabela
Isabela
Mônica, você é minha melhor amiga — 𝐅𝐨𝐫𝐜̧𝐨 𝐮𝐦 𝐬𝐨𝐫𝐫𝐢𝐬𝐨. 𝐌𝐚𝐬 𝐥𝐨𝐠𝐨 𝐬𝐞 𝐝𝐞𝐬𝐟𝐚𝐳. 𝐋𝐚́𝐠𝐫𝐢𝐦𝐚𝐬 𝐩𝐢𝐧𝐠𝐚𝐦 𝐝𝐨 𝐬𝐞𝐮 𝐫𝐨𝐬𝐭𝐨. 𝐌𝐞𝐮 𝐜𝐨𝐫𝐚𝐜̧𝐚̃𝐨 𝐬𝐞 𝐪𝐮𝐞𝐛𝐫𝐚, 𝐚 𝐜𝐨𝐧𝐬𝐜𝐢𝐞̂𝐧𝐜𝐢𝐚 𝐩𝐞𝐬𝐚, 𝐦𝐞𝐮𝐬 𝐬𝐞𝐧𝐭𝐢𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨𝐬 𝐯𝐚̃𝐨 𝐞𝐦𝐛𝐨𝐫𝐚 𝐞 𝐚 𝐩𝐫𝐞𝐨𝐜𝐮𝐩𝐚𝐜̧𝐚̃𝐨 𝐜𝐨𝐦 𝐞𝐥𝐚 𝐭𝐨𝐦𝐚 — Mônica, não chora — 𝐀𝐛𝐫𝐚𝐜̧𝐨 — Eu fico aqui, tá bom? Vejo meus pais todos os dias. Gosto tanto de brincar e de comer a comida da tia Simone — 𝐌𝐞 𝐝𝐞𝐬𝐞𝐬𝐩𝐞𝐫𝐨. 𝐋𝐚́𝐠𝐫𝐢𝐦𝐚𝐬 𝐚𝐢𝐧𝐝𝐚 𝐦𝐨𝐥𝐡𝐚𝐦 𝐦𝐞𝐮 𝐨𝐦𝐛𝐫𝐨, 𝐝𝐞𝐢𝐱𝐚𝐧𝐝𝐨- 𝐦𝐞 𝐬𝐞𝐦 𝐜𝐚𝐦𝐢𝐧𝐡𝐨 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐚𝐜𝐚𝐥𝐦𝐚-𝐥𝐚́ — Nunca mais chego perto do seu primo. Só conheço ele por sua causa, ele não significa nada. Você é a minha amiga, a melhor de todos os tempos
Ela funga
Isabela
Isabela
Eu te amo, Mônica
Mônica
Mônica
Também te amo, Isa
Minha vida virou de cabeça para baixo a partir desse dia. A dependência que tinha com meus pais foi rompida, não conseguia olhar na cara da minha mãe, meu pai me abandonou. A infelicidade tomou conta de mim, não sentia prazer de continuar convivendo com ninguém, pois não suportava a dor carregado no meu peito
E tudo começou nessa noite, depois no nosso primeiro abraço, quando meus tios vieram me buscar na manhã seguinte, ao invés da minha mãe e do meu pai
E todos naquela casa sabiam o que tinha acontecido. Menos eu
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