CAPÍTULO 1: Sentidos em Chamas
A chuva caía devagar, e cada gota parecia uma canção suave no ouvido atento de Lívia. Mesmo sem enxergar, ela sentia o mundo de forma intensa: o cheiro da terra molhada, o calor das mãos que tocavam as suas, o arrepio que corria por sua pele ao ouvir um sussurro mais perto do que deveria.
Naquela tarde, Lívia visitava a antiga biblioteca do centro, seu lugar favorito. Ela conhecia cada corredor, cada cheiro de livro velho, cada rangido do assoalho. E foi ali que Dante, o novo bibliotecário, a encontrou.
— Você veio com a chuva, como uma música, — ele disse, com voz baixa e rouca.
Ela sorriu.
— E você fala como se estivesse tentando me seduzir com palavras.
Dante se aproximou mais, e mesmo sem vê-lo, ela sentia seu calor, o cheiro do couro molhado da jaqueta, a presença firme. Seus dedos tocaram os dela, e o toque era lento... elétrico.
Naquele momento, o mundo se calou.
Lívia não precisava ver para saber que ele a desejava.
Na mesma noite, em seu apartamento, Maya chegou rindo, com uma garrafa de vinho e os olhos brilhando.
— Então... é verdade? O bibliotecário bonitão ficou te olhando como se fosse te devorar?
Lívia corou, mas não respondeu. Maya, como sempre, se aproximou com aquela leveza provocante, sentando no sofá ao lado.
— Posso te contar um segredo? — sussurrou no ouvido de Lívia. — Às vezes eu morro de vontade de ser você... sentir tudo com tanta intensidade... inclusive o desejo.
Lívia estremeceu.
Maya deslizou os dedos pelo braço dela, devagar.
— Você nunca se perguntou como seria ser tocada... por alguém que te ama e te deseja ao mesmo tempo?
Lívia mordeu o lábio. Sua pele queimava sob o toque da amiga. E quando Dante apareceu de surpresa com um livro que ela tinha esquecido... encontrou as duas, próximas demais, o clima tenso no ar.
Ele hesitou.
Mas Lívia apenas sorriu e disse com firmeza:
— Talvez hoje... eu não precise escolher entre a luz e a escuridão.
Naquela noite, os sentidos de Lívia despertaram em um mundo sem visão, mas cheio de calor.
Dante a beijava no pescoço, enquanto Maya deslizava os dedos por sua barriga nua, suas bocas se encontravam às cegas, seus corpos se enlaçavam como uma dança proibida.
A cama virou um campo de descoberta, onde não havia limites, apenas entrega.
Lívia guiava com os ouvidos, os lábios, os suspiros.
Dante e Maya aprendiam a amar sem imagens, apenas com o toque, o cheiro, o som e o gosto.
E quando o amanhecer chegou, Lívia, entre os dois corpos ainda nus, sussurrou:
— Não preciso ver... para saber que encontrei meu caminho.
CAPÍTULO 2: Entre Vozes E Toques
O sol invadia o quarto suavemente, mas para Lívia, o dia começava com os sentidos que iam além da luz.
Seu corpo ainda vibrava com os ecos da noite anterior — o calor da pele de Maya, o peso do corpo de Dante sobre o seu, os gemidos abafados, os toques cuidadosos, mas ousados.
Ela estava entre eles, deitada entre dois mundos.
Maya acordou primeiro. A morena se espreguiçou preguiçosamente, deslizando os dedos pelas costas nuas de Lívia.
— Bom dia, sensação deliciosa... — sussurrou no ouvido da amiga, antes de mordiscar de leve sua orelha.
Lívia sorriu, sentindo um arrepio subir pela espinha.
Dante virou-se lentamente, ainda meio sonolento, e passou o braço por cima das duas, beijando a nuca de Lívia com ternura.
— Isso está se tornando um vício... — murmurou. — Um vício quente e perigoso.
Maya riu.
— Perigoso seria ignorar isso. A gente funciona junto. E você sabe.
Lívia, com os dedos deslizando pelo peito de Dante, sussurrou:
— Vocês me fizeram sentir o mundo de um jeito novo. Eu... não quero parar.
Ela virou-se de lado, puxando Dante para um beijo lento. Maya se aproximou por trás, abraçando Lívia, deslizando os dedos pelo ventre dela.
Aquela manhã foi uma nova dança — menos selvagem que a noite anterior, mas mais profunda. Lívia guiava pelo toque, Maya explorava com a boca, e Dante se entregava aos sussurros.
Mais tarde, os três estavam na cozinha. Maya vestia apenas a camisa de Dante, enquanto ele preparava café. Lívia, sentada à mesa, ouvia a conversa deles, sorrindo.
— A gente deveria sair juntos. Os três. Assumir. — disse Maya, bebendo um gole de café.
— O mundo não está pronto pra isso... — Dante respondeu, com um tom de dúvida.
— E eu estou? — interrompeu Lívia. — Eu não enxergo, mas vejo vocês como ninguém. Sinto o desejo, o carinho... o medo. Por que esconder?
Houve um silêncio cheio de significado.
Naquela noite, os três saíram pela cidade. Lívia segurava a mão de Dante de um lado, e a de Maya do outro. Os olhares nas ruas eram inevitáveis, mas ela não os via — e isso dava força.
Na beira do lago, os três se sentaram. A brisa fresca dançava entre seus corpos.
Dante puxou Lívia para o colo e beijou seu ombro. Maya, deitada de lado, observava com desejo.
— Hoje... quero que você nos guie de novo — sussurrou Maya.
Lívia respirou fundo.
— Fechem os olhos. Sintam o mundo do meu jeito...
E ali, sob as estrelas, entre beijos, mãos e suspiros, eles mergulharam novamente no escuro mais quente que já conheceram.
CAPÍTULO 3: O Que Eu Não Vejo, Eu Sinto
Lívia caminhava lentamente pelo jardim sensorial da cidade.
Ali, cercada por fjores aromáticas, caminhos de pedra e fontes, ela sentia a vida pulsar sem precisar enxergar.
Mas naquela manhã, havia algo estranho no ar.
Dante não atendeu sua ligação.
Maya parecia distante desde a noite no lago.
Ela apertou a bengala com força, tentando entender o que estava fora do lugar. O silêncio entre os três, antes tão íntimo e confortável, agora estava preenchido com espaços frios.
Naquela mesma tarde, Maya apareceu no apartamento.
Trazia uma expressão tensa, os olhos vermelhos. Lívia tocou-lhe o rosto delicadamente.
— Você chorou...
Maya tentou sorrir, mas não conseguiu fingir.
— Eu disse que sabia lidar com isso, mas... acho que menti.
Lívia ficou em silêncio.
Maya continuou:
— Eu me apaixonei por você, Lívia. Desde muito antes do Dante. Antes de nós três. Mas... agora eu não sei se ele está aqui por você... ou por mim... ou por nós duas.
Lívia sentiu o peito apertar.
— Maya, eu te amo também. Mas não sei se esse amor tem forma. Ele só... queima. Me guia, me consome.
As duas se abraçaram com força.
Lívia encostou a testa na de Maya.
— Vamos conversar com ele. De verdade.
Dante chegou à noite. O ambiente estava silencioso, tenso.
Sentou-se diante delas. Seus olhos estavam cansados, mas havia sinceridade em seu olhar.
— Eu sumi porque estava com medo... — confessou. — Medo de me perder nisso. De não conseguir amar duas pessoas e ser justo.
Lívia o interrompeu, suave:
— Amar... não é equilibrar uma balança. É aceitar o caos e ainda querer ficar.
Maya se aproximou dele.
— Então fica, Dante. Mas fica inteiro. Não queremos um pedaço seu. Queremos tudo.
Ele os olhou. Duas mulheres tão diferentes, mas ligadas por algo invisível.
Ele se ajoelhou entre elas, segurando as mãos de ambas.
— Eu quero tentar. Mas prometam que se um dia doer demais... a gente vai falar.
Lívia assentiu.
— Eu não enxergo, Dante. Mas sinto. E o que sinto agora... é amor.
Eles se beijaram. Três corpos em harmonia, mas agora com o coração no centro.
Mais tarde, deitados na cama, não houve pressa.
Dante explorava o corpo de Maya com beijos suaves, enquanto ela tocava Lívia como quem toca um segredo.
Lívia guiava com palavras baixas, sentindo cada respiração, cada gemido, cada emoção exposta.
Era diferente daquela noite na biblioteca.
Agora era mais profundo.
Mais quente.
Mais real.
O quarto se encheu de suspiros e promessas sussurradas.
E quando os corpos se acalmaram, e os corações ainda batiam acelerados, Lívia disse baixinho:
— A escuridão... nunca foi tão clara.
Continua...