O som dos pneus cantando no asfalto ecoava alto, misturado ao pulsar acelerado dos corações dentro do carro. Lá fora, os faróis dos perseguidores vinham ferozes, como olhos de predadores famintos. A estrada escura cortava a madrugada, iluminada apenas pela lua e os lampejos das luzes vermelhas do retrovisor.
Ela estava no banco do passageiro, com uma mão apertando o cinto de segurança e a outra apoiada sobre a barriga que já começava a tomar forma — três meses de uma vida crescendo ali dentro. Mas naquele momento, tudo que ela sentia era medo. Medo por ele. Medo pelo bebê. Medo do que viria.
— O que eles querem? — ela perguntou com a voz embargada, tentando conter as lágrimas. — Eu tô com medo…
Ele olhou rápido pra ela, os olhos escuros refletindo a urgência da situação, mas também um cuidado profundo.
— Ei... olha pra mim.— Ele pegou a mão dela por um instante. — Vai ficar tudo bem. Eu prometo.
— Você disse que tinha deixado tudo pra trás...
— E deixei. Mas o passado é como sombra — corre atrás mesmo quando a gente não quer mais ser seguido.
O carro sacudiu quando passou por um buraco. Ela soltou um gemido baixo e levou a outra mão pra barriga.
— Ai... tá doendo...— sussurrou.
Ele arregalou os olhos, voltando a atenção pra ela num segundo.
— O quê? Você tá sentindo dor agora?
— Acho que é a adrenalina... ou o susto... tá apertando aqui embaixo...
Ele diminuiu a velocidade. O som dos carros atrás deles ficou mais alto.
— Droga…— ele murmurou. E então decidiu.
Pisou no freio.
O carro foi desacelerando, devagar, até parar no acostamento. As luzes dos perseguidores se aproximaram e também pararam, num cerco silencioso, mas ameaçador. Dois carros. Três homens desceram. Armas visíveis.
Ele desligou o motor e ergueu as mãos.
— Não atirem! Por favor! — gritou, saindo devagar. — Ela tá grávida! Minha mulher tá grávida! Ela tá com dor!
Os homens pararam. Um deles — o líder — avançou mais.
— Não devíamos ter que fazer isso, Lucas... — disse com a voz firme. — Você sumiu com coisa nossa. Isso tem um preço.”
Lucas engoliu seco, mantendo as mãos no ar.
— Eu não tenho mais nada com vocês. Levei uma vida nova. Tô tentando fazer certo agora. Por ela... pelo meu filho.
O líder olhou pro carro, onde ela estava com as mãos tremendo sobre a barriga. Mesmo à distância, era visível que ela não fingia.
— Ela é só uma garota, cara...— completou Lucas, dando um passo à frente. — Leva o que quiser de mim. Mas deixa ela fora disso.
Dentro do carro, ela observava tudo com os olhos arregalados e o peito arfando. Uma lágrima escorreu. A dor era real, mas o medo do que poderia acontecer doía ainda mais.
Um dos homens se aproximou do carro. Lucas girou o corpo rápido, ficando entre eles.
— Não toca nela! — rugiu.
O líder ergueu a mão, mandando o outro parar.
— Se ela perder esse bebê por nossa causa, não vai ter paz nem pra nós.
Silêncio.
Os homens trocaram olhares. Por um segundo, o tempo pareceu parar.
Então o líder falou:
— Você tem 48 horas. Pra sumir. Pra nunca mais aparecer. Nossos caminhos não se cruzam de novo.
Lucas assentiu, ainda com o peito subindo e descendo em descompasso.
Eles voltaram pros carros e partiram.
Assim que o último carro desapareceu, Lucas correu de volta pro banco do passageiro e abriu a porta.
— Amor... olha pra mim... respira...
Ela chorava em silêncio, a mão apertando o tecido da camiseta dele.
Ele se abaixou, colocou a testa na dela e passou a mão quente e firme sobre a barriga.
— Eu tô aqui. A gente conseguiu. Você foi forte demais... vocês dois.
Ela suspirou, tentando sorrir por entre as lágrimas.
— Eu achei que ia perder nosso bebê…
Ele beijou os dedos dela, depois o ventre.
— Nunca mais vou deixar ninguém te ameaçar. Nem você, nem ele. Eu vou proteger vocês... nem que isso custe tudo.
Ela segurou o rosto dele entre as mãos e sussurrou:
— Agora a gente é uma família, né?
Ele sorriu com os olhos marejados.
— Somos. Pra sempre.
✨FIM✨