Capítulo 1: O Encontro no Outono
A brisa do fim de tarde soprava pelas ruas de Paraty, trazendo o cheiro de maresia misturado com folhas secas. A cidade, envolta por uma aura poética, parecia suspensa no tempo. Era início de abril, quando o outono começava a pintar as árvores de tons dourados, e Helena, recém-chegada de São Paulo, caminhava pelas ruas de pedra com um livro nas mãos e um coração em ruínas.
Tinha deixado a capital após um término difícil. Tudo nela clamava por mudança, por silêncio, por algo que a ajudasse a reencontrar o próprio eixo. E Paraty, com suas ruas tranquilas e clima introspectivo, parecia ser o refúgio ideal.
Helena se hospedada numa pousada modesta próxima ao centro histórico. Passava os dias lendo, escrevendo em seu diário e caminhando. Não procurava nada além de paz. Até aquele sábado.
Na Livraria do Porto, um recanto charmoso cheio de estantes antigas e cheiro de café, ela procurava um livro de poesia quando um acidente a surpreendeu. Um rapaz, apressado e atrapalhado, esbarrou nela, fazendo cair todos os livros que ela carregava.
— Me desculpa! — disse ele, agachando-se rapidamente para ajudá-la.
Helena, irritada, tentou manter a compostura. Mas quando os olhos dele encontraram os seus, algo nela vacilou. Eram olhos castanhos, intensos, com um brilho quase familiar. Ele sorriu, um tanto sem graça, e disse:
— Gosto de gente que lê Drummond num sábado à tarde. É raro.
Ela ergueu uma sobrancelha, desconfiada.
— Você leu o título do livro ou está tentando ser poético?
Ele riu.
— Um pouco dos dois. Me chamo Rafael.
— Helena.
E naquele gesto simples — mãos se tocando para pegar o mesmo livro caído no chão — nasceu a fagulha de algo que nenhum dos dois esperava.
Que assim terminaria os dois agachados os dois enquanto davam as mãos.
END
Escritor - Luan Felipe