Aos 8 anos, plantávamos girassóis enquanto ela me ensinava a silenciar as pedras do chão.
Aos 16, as cigarras cantavam tão alto que meu peito doía, afogando o grito que eu não podia dar. “Volto logo”, mentiu — mas ninguém ouviu, só o zunido cortante.
Dois anos depois, reencontrei seus olhos na estação. Ela sorriu, mas correu o lenço sobre o pescoço, ocultando uma cicatriz e o som de um pulso dolorido. “Não pergunte”, sussurrou, e as cicadas comemoraram em coro.
Agora, debaixo do mesmo jardim, escavo a terra úmida: raízes podres de girassóis mortos e o eco de um segredo tão ruidoso que não ouso quebrar o silêncio. Ela me observa da janela, calada — e as cigarras, impacientes, continuam a cantar seu segredo.