Na pacata cidade de São Vicente, havia uma casa que todos evitavam. Ela era antiga, de madeira carcomida, com janelas sempre fechadas. Alguns diziam que ninguém vivia lá; outros afirmavam que sim, mas que o morador preferia a escuridão ao convívio social.
Miguel, um jovem curioso e cético, não acreditava em histórias de terror. Decidiu explorar a casa depois de ouvir de seus amigos que estranhos sons ecoavam dali à noite. Ele esperou o cair da madrugada e, armado apenas com uma lanterna, invadiu o lugar.
O cheiro de mofo o envolveu ao entrar. O chão rangia sob seus pés, e cada passo parecia um grito em meio ao silêncio. As paredes estavam cobertas por manchas escuras, mas o que chamou sua atenção foi a prateleira no centro da sala. Ela estava cheia de frascos, cada um contendo um líquido levemente viscoso e algo flutuando dentro.
Miguel aproximou-se e iluminou os recipientes. Seu estômago revirou. Dentro dos frascos estavam pedaços de pele humana, cuidadosamente preservados. Pequenos desenhos, marcas de tatuagem, adornavam alguns fragmentos. Ele reconheceu uma: a tatuagem de uma rosa que pertencia a um amigo desaparecido meses antes.
Um som seco ecoou atrás dele. Miguel congelou, o coração batendo como um tambor. Virou-se lentamente e viu uma figura alta e magra, com olhos frios e um sorriso insano.
— Gostou da minha coleção? — a voz do homem era suave, quase gentil. Ele segurava um bisturi brilhante. — Sempre procuro por peças únicas.
Miguel tentou correr, mas o chão podre cedeu, e ele caiu, torcendo o tornozelo. A figura aproximou-se, calma e metódica, enquanto Miguel gritava por ajuda que nunca viria.
No dia seguinte, a casa estava novamente silenciosa. Ninguém ousava entrar. Meses depois, outro jovem curioso decidiu explorar a casa, atraído pelas mesmas histórias. Ele encontrou a prateleira mais cheia do que antes. Entre os novos frascos, um deles continha uma pele com a frase “nunca duvide” tatuada em preto.
A coleção continuava crescendo. E o colecionador nunca errava sua escolha.