Violante Guerreiro era a mulher que todos queriam. Com um sorriso a transbordar de charme e um olhar raro, violeta, atraía tudo e todos. Tudo nela era um cântico de sereia. E igualmente perigoso.
Ela era a minha doença e o meu remédio. Levava-me ao pior dos infernos e ao mais doce dos paraísos. Quando se ia, todo o meu corpo latejava por ela. Quando estava comigo, era uma sensação tão intensa como uma injeção de adrenalina, mas que se ia rapidamente. Eu era um viciado.
O pior era que, quanto mais provava daquele néctar, menos conseguia viver sem ele. Ela dizia-me que eu não era o único na vida dela, que a nossa relação devia ser estritamente profissional. Lembro-me de quando as grades da sua profissão não existiam e todos os dias me arrependia de nunca ter dado o primeiro passo.
— Também nunca te ia escolher — disse-me ela um dia, com um sorriso tão doce e uma pele tão sedosa que me afagavam a mágoa daquelas palavras.
Não havia cura para a minha doença senão ela. E quanto mais tempo ela ocupava no meu dia, mais os sintomas se agravavam.
Ninguém a queria tanto quanto eu. O meu corpo gritava por ela, a minha alma contorcia-se no peito quando nela não pousava a vista. Agora, até o cadáver dela me atraía, com aqueles olhos de ametista permanentemente abertos e a tez como marfim. «Tóxico», tinham-me chamado. E era mesmo tóxica esta doença, que me deixava extasiado perante um corpo morto.
Bom, pelo menos, desta forma, não haveria entraves ao meu amor.