Os degraus são íngremes, mas não se sente nos músculos. Quanto mais sobe, mais sentido faz. Não sente o movimento do coração. A respiração ecoa entre as paredes estreitas.
Ah, está uma brisa leve. Já deve ser o final da tarde. O Sol está a pôr-se. Sente a mão leve; afinal, a garrafa de whisky está quase vazia. Traga mais um gole, dois, e acaba a garrafa. Dança uma música imaginária, calma, com rodopios de olhos fechados e um violoncelo. O que vê é a sua realidade, as suas memórias e sentimentos. O mundo não existe. Da dança brota uma lágrima, duas, chora incontrolavelmente, ainda a dançar num sorriso. Senta-se. De cara vermelha, inflamada, deturpada. Olha a multidão que passa, sem lhe dar qualquer troco, sem sequer saber o que se passa, o que se vai passar. Continua a dançar ao ritmo do violino do quarteto de cordas que toca na sua cabeça. Pousa a garrafa vazia. Contempla o céu mais uma vez, os prédios, os carros, as janelas que se fecham com o fim do sol. A brisa transforma-se num vento confortável, ainda abafado. Levanta-se. Inspira. Os olhos fecham. Expira. O sorriso surge entre os cantos da boca. As lágrimas caem. Os olhos reabrem. A mente desvanece. O vento é agora uma ventania a uma velocidade considerável. O chão está mais perto. O Sol pôs-se. Há uma audiência em êxtase, gritos, uma ovação de pé.
Óscar, estes são os seus quinze minutos de fama.
Óscar, o concerto terminou.
Aplausos.