Baile da Siriguela.
^^^01H21M - COMUNIDADE DA SERIGUELA, RJ:^^^
As ondas sonoras faziam as residências mais próximas tremerem. Um terreno com cerca de 1 quilômetro de comprimento e 500 metros de profundidade sendo palco de mais uma noite agitada de sexta-feira, as aguardadas noites do Baile Funk do morro da Seriguela, o melhor baile da zona oeste da cidade, segundo as mais de 11 mil civis que vinham das mais diversas áreas da cidade apenas para apreciar a agitação constante.
As mulheres dançavam de forma sensual, rebolando e se deliciando com os olhares hipnotizados dos homens babões. Misturados entre a multidão, bandidos portavam fuzis e pistolas apontados para cima. Uns, já enlouquecidos e sob efeitos de álcool ou drogas atiravam para cima berrando como animais para intimidar os demais enquanto outros andavam quietos e apenas observavam para garantir a tranquilidade do baile.
Observando este cenário um tanto caótico de dentro de uma kombi velha e mal acabada, um rapaz observava ao lado de seu amigo. Com a pele clara, corpo relativamente magro nada definido, cabelos pretos que chegavam a altura de sua nuca amarrados em um coque arrumados, ele estava sentado com as costas curvadas, os cotovelos apoiados na coxas e as mãos com os dedos entrelaçados na altura de seu nariz e trajando uma jaqueta preta de couro, uma camisa preta, calças jeans pretas e um par de botas pretas.
— Que Nojo. _ ele resmunga com asco na voz.
— Mano, tu é gay, não é? _ pergunta seu amigo sentado ao seu lado. De pernas e braços abertos encostado na lateral da Kombi, gordinho de pele chocolate, cabelos pretos cacheados que passavam de seu ombro, trajando uma camiseta azul clara, calças brancas de tecido leve e um par de chinelos também brancos com alças azuis claras.
— Não entendi o motivo da pergunta, Luiz.
— Olha quantas gatas! Várias rabetonas rebolando para lá, pra cá, dando as tremidinhas e você me manda um "que nojo"? Me parece meio gay, sem preconceitos.
— suspira* .É Sério que você não enxerga nada além do mais óbvio? _ o rapaz sombrio questiona seu amigo entre suspiros.
— iih, lá vem. E o que você está enxergando além do óbvio, Oh, Victor, o visionário?
— Eu enxergo apenas fracassados.Todos que frequentam bailes assim idiotas são dignos de pena por mim. Esse miseráveis vem aqui, bebem, zoam, gritam,se drogam, se beijam, se comem, tudo para esquecer por breves momentos do quão triste e medíocre suas vidas são.
Luiz ouvia atentamente enquanto bebia sua Ice.
— Eles se agarram em banalidades estúpidas e nojentas ignoram a verdade. A verdade que o caminho para o sucesso é absorver a dor e as humilhações da vida e as utilizando como combustível para fortalecer seu espírito, e não ir pelos caminhos fáceis para se satisfazer como um viciado em pornografia.
— Saquei. E os bandidos? Qual sua visão deles?
— Para mim, um bando de otários que tentam serem superiores dos demais com suas arminhas, drogas, seus malotes de dinheiro e suas ofensas vazias.
— Chamando a atenção?
— Exatamente.
— Tipo um cara que vem para um baile funk vestido igual um motoqueiro e fica sentando na pose do Sasuke Uchiha bebendo vinho barato? _ Luiz indaga com um tom irônico e debochado.
— Vai tomar no cu, Luiz! Isso é completamente diferente! E esse é um vinho importado de primeira! Muito melhor.que essa porcarias que você fica aí bebendo!
— Ei, ei, auto lá. O que tem de errado com minhas ice's?
— São uma porcaria industrializada igual a cerveja e com um gosto enjoativo como cachaça. Só o cheiro disso já me causa enjoô.
— Cachaça tem um gosto enjoativo? Cachaça tem um gosto melhor que muito vinho porcaria por aí. E tu nunca nem-
— GYYYYYYAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHH!!!!!!!!!!
Interrompendo a conversa, um grito estridente e conhecido por ambos é escutado ao longe. Mesmo com o som alto, os dois conseguiram escutar.
— Isso foi o Ryan, não foi? _ o menino Rock i'n Roll (OOOH, YEEEESSS!!!) pergunta para Luiz que responde:
— Acho que sim. Se bem que mais pareceu uma menininha de hentai gemendo.
— Vamos lá ver o que aconteceu. _ Responde Victor preocupado.
— Eu até iria, mas... _ Luiz se espreguica e deita no chão da kombi. _ — Eu tô com mó preguiça, então vou não, valeu.
— Aí, Tu é um péssimo amigo, papo reto!_ Victor diz. Ele se levanta pronto para ir à busca de seu amigo até avistar a figura magra de pele escura ao longe, saindo do meio da multidão com as mãos segurando seus bagos e uma clara expressão de dor. Trajando uma camisa vermelha, uma calça moletom e tênis, ambos brancos com os cadarços e outros detalhamentos em dourado e com seus cabelos eram crespos e cortados no estilo americano. Ambos observavam os passos lentos e arrastados de seu amigo. A medida que ele se.aproximava da Kombi, era visível para o quão suado e abatido ele estava.
Victor saltou da Kombi e correu até seu amigo.
— O que aconteceu!?
— Aquela vagabunda... me enganou...! _ resmunga Ryan. Sua voz rouca e arrastada só mostrava que ele estava sentindo uma dor do caralho.
Victor passa o braço de Ryan por cima de sua nuca seu e o ajuda a subir na Kombi, enquanto Luiz os observava enquanto degustava sua bebidinha.
— Irmão, não era só uma conversa!?
— Era, mas... ela me passou a perna...
Paralelo a isso, um garoto aleatório que não passava dos 11 anos portando um fuzil se aproxima sorrateiro e cutuca a barriga de Luiz com o bico da arma.
— Eu tô vivo, moleque.
— Eu sei, ô seu comédia. Quero saber que porra que tá acontecendo aqui! _ responde o garoto com marra.
— Ta vendo aquele cara alí com a faca na perna? _ Luiz aponta para trás, levando a atenção do moleque a Ryan. _ — Ele tava afim de dar umas bimbadas fortes e buscou auxílio profissional.
— É o quê? _ pergunta o moleque confuso.
— Ele queria foder e foi atrás de uma puta.
— Ah, certo.
— Ele então achou uma conterrânea que fez uma promo braba: 600 pilas sem juros no cartão. Ele pegou um empréstimo com nosso patrão agiota e passou o pix para a dita cuja que‐
— Ô comédia! Tu não sabe que eu sou analfabeto!? Para de usar palavra difícil, caralho!
— Quis dizer que ele foi atrás de uma puta que ele já conhecia, ela fez um valor especial de 600 contos, ele pegou empréstimo com nosso Chefe e mandou pelo pix dela.
— Essa última parte eu tinha entendido. Só sei lá o que é "conterrânea" ou "dita cuja".
Luiz deu de ombros e proseeguiu:
— Bem, a puta passou a perna nele e viemos ajudá‐lo a resgatar a grana perdida.
— Caralho, seu amigo é mó otário KAkahakahakajakajkanajajajajajajajakkaajkakajakajakka. _ responde o garoto entre gargalhadas. Ele então vai embora rindo alto, deixando Luiz o encarando até sumir na multidão.
— Ei, tu tava falando com quem, seu maluco!? _ Victor pergunta.
— Seiblá, acho que quebrei a quarta parede ou só bebi demais mesmo.
— DEIXA DE VIADAGEM E VEM AQUI ME AJUDAR COM O RYAN!!!
Luiz se levanta e vai até o banco onde Ryan estava, sentando ao seu lado.
— E então? O que aconteceu lá? _ Victor pergunta. Ryan então conta tudo o que aconteceu. Em suas palavras, ele encontrou a mina em uma barraca de Caipirinha e chegou perguntando sobre o combinado. Ela, por sua vez, só debochou de sua cara, disse que ele era um zé ruela e falou para ele meter o pé antes que ela chamasse os "amigos" para ele receber um "tratamento VIP". Então Ryan se irritou, segurou no pulso dela com força e foi onde ela puxou a faca, cravou na perna dele e ainda deu um chutão potente em suas bolotas, correndo logo em seguida e sumindo na multidão. Já Ryan ficou alí, humilhado e com o seu saco esmagado.
— Mas você também foi um imbecil de primeira classe, em? _ Luiz disse convicto, recebendo em seguida o olhar de negativo de Ryan.
— Luiz, vai se foder.
— Ela pelo menos disse pra quê precisava do adiantamento? _ Victor pergunta.
— Ela disse... que ia comprar fraldas para o filho e... doar o resto para o Criança Esperança...
— (•_•) •_•) pff... HAHAHAHAHAJAJAKHAKAHLANAKSBLABAKSBKSHSKBSKSBSKSBJAKJSKAJAKAKAKAJKAKAKAKAKAKAKAJAKAJKAHAKAJAJAJAJSKSIKSKAJAKAKAKJAKSHSKAHAKJAKAJAKAKSKSJAJKSKSJSKSKSKWKWKAKAK TANKEI NÃO, VÉI!!! KJAKAJAKKAKAKJAHAHHAHAHAHHAHAHAHHAHAHHAJKAHAJKAHKAKAKAKKAKAKAKAKAKAKAKAKAKAKAKAKAKAKAKAKKAKAJAJAKAKAKAHJAKAHAJAJAKJAJAJAJAKHKAHAJAHAJBAJAHJAHAJAHAJABABABABABAJAHUAGWJWVAHWGWHBAHAIJAUWDUWBSCSKABABAKAHUAANVAIWVWJWGA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
— Vão pro inferno! Cês dois... não podem rir de ninguém não! Tu mesmo, Victor! Já... Argh!... já perdeu 100 conto pra um cracudo de burrice! _ Ryan fala apontando para Vitor.
Victor rapidamente se recompõe para se defender.
— Pera aí, meu mano. Eram 15 caras me cercando. Tu queria que eu fizesse o quê?
— Ora... Por que não enfio a porrada neles?
— Eu consigo aguentar até 10 caras! 15 só se eu tiver armado!
Luiz e Ryan encaram Victor após aquela declaração suspeita. Victor percebeu e sua ficha enfim caiu.
— Não, espera...
— IIIIIIIHHH, MÓ GAYZÃO! _ agora, era Ryan quem ria junto a Luiz.
— Vão se foder vocês dois!
— E você quer falar de quem, Ryan!? Olha tua situação! Não conseguiu nem reaver seu dinheiro de uma puta!
— Ainda não, mas eu vou amanhã falar com o Andrey e ele vai-
— Rir da tua cara igual nós fizemos. E ainda vai dizer para você ser menos otário na próxima. _ Luiz responde sorrindo, o que deixou Ryan ainda mais estressado.
— Olhando por esse lado... É, Ryan. Você saiu como otário mesmo, em todos os sentidos.
Derrotado, Ryan se deita entre os bancos traseiros e mesmo com dor, retira a faca de sua coxa.
— Merda... me endividei e nem comi ninguém! O QUE MAIS FALTA ME ACONTECER!!?
— BLAM, BLAM, BLAM!* Ô FILHA DA PUTA! TÔ LIGADO QUE TU TÁ AÍ DENTRO!! DESCE AGORA OU NÓIS ATIRA, TÁ ESCUTANDO!?
Do lado de fora, um grupo de 14 seguranças cercavam o veículo dos rapazes apontando suas armas para as portas e janelas.
— Tem certeza que é aqui, menó!? _ o líder, um homem alo de pele bronzeada, cabelo platinado e sorriso cintilante pergunta ao seu aprendiz.
— Absoluta, chefe. O cara tá aí dentro.
Luiz abre a porta da Kombi e põe sua cabeça pra fora dando um sorriso meio bêbado. Encarando o grupo, ele reconhece o mesmo garoto com que ele havia conversado a pouco tempo atrás.
— Opa! Testemunhas de jeová? Olha, desculpa, mas é que eu tô com comida no fogo, sabe. Vou poder atender agora não.
— PARA DE CAÔ, Ô SEU COMÉDIA! CHAMA AQUELE ARROMBADO DO TEU AMIGO AÍ PRA 'NÓS IR NAS IDÉIAS COM ELE E TU PODE SAIR VIVO DAQUI!
Nesse momento, Victor abre até o fim a porta da Kombi e aparece de corpo inteiro.
— Pô, rapaziada. Infelizmente, meu mano está fora de combate. Então qualquer reclamação será comigo mesmo. Inclusive se for pra vir na porrada.
Pra fazer uma cena mais fodona, ele tira sua jaqueta e a joga em câmera lenta no chão.
— E eu... tô sempre pronto pra porrada!
Todos então encararam Victor com essas exatas expressões:
— (•_•) •_•) (•_•) •_•) (•_•) •_•) (•_•) •_•) (•_•) •_•) (•_•) •_•) (•_•) •_•)
— *pfft... AKKAJAKAKAKAKAJAJASAJASAJAKAKAKAKAKAKAKAKAKAKAKJAJAJAJAJA**JASALAJAKWAWAKAHJAJAJAKAJAJAJAKAJAJAJAJAMAMANKAKAJAJAJAJAJAJAHASHATAKAKATAHATATATATAKAJAAKAJAKAKAKAKAKAKKAKAKKAKAKAKKAKAKAKAKAKAKAKAKJAJAJAJAJAJAJAJAJAJAJAJAJAJAKAJAJAJAJAJAJAKAKAJAJAJAJAJAJAJAJAJAJAJJAJAJAJAJAJAJAJAJAKAKAJAKAJAJAJAJAJAJAJAJAJAKAJAJAKAKAKAKAKAKAJAJAJAKAJAJAKAKAKAJAKAJKAJAKAKAJAKAJAJAJA***!!!!!!!!!!!
Visivelmente incomodado, Victor desce da Kombi e retruca:
— Podem rir, princesos. No fim, vocês sabem que cairiam um por um numa luta justa comig-
— RÁTATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATA!!!!!*
Porém, antes de terminar sua frase épica, o líder do grupo metralhou seus pés, o fazendo cair no chão de terra do estacionamento agonizando.
— AAAAAAAAAAAA!!! HAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!! QUE INFERNO!!! ISSO DÓI PRA UM CARALHO!!! AAAAAAA, POORRAAA!!!!! EU VOU MATAR VOCÊS, SEUS MALDITOS!!!! AAAAAHAAAAAHAAAANN.....
Enquanto Victor agonizava no chão de terra, os demais o encaravam em silêncio sem demonstrar uma minúscula reação. Tanto Luiz e Ryan quanto os Criminosos pareciam extremamente desconfortáveis com o que estavam presenciando.
— Ae Vocês Dois, presta atenção!
Luiz e Ryan levantam as cabeças e encaram os bandidos.
— Vou passar a visão pra vocês 'ficar esperto! Se tem gente que me irrita de coração mesmo é gente igual vocês: um bando de lerdão que vive no mundo da lua e da imaginação. Papo reto 'mermo. Cara que não tem visão de futuro e fica só encostado no mundo perfeito dos sonhos. Porra, me dá um ódio do caralho mermo! Mas papo reto, cês não merecem morrer pela minha mão não. Cês não valem nem as balas que eu ia gastar. Ta maluco. Vou deixar vocês irem por isso. Mas antes! _ ele finaliza apontando a arma para a Kombi. E sabendo o que viria, Luiz chuta Ryan para fora e salta no chão com sua Ice nova em mãos.
— RÁTATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATATAATATATATATATATATATATATATATATATATA!*
Junto ao líder, os seguranças metralham toda a Kombi, desde os pneus até as janelas, a destruindo quase que por completo.
— BOA SORTE PRA SAIR AGORA, OTÁRIOS! BORA RAPAZIADA!
Gargalhando como nunca, o grupo se dispersa dentre a munição, que nem ao menos ligou para o acontecido.
Luiz, sendo o único ainda sem ferimentos, ajuda Ryan e Victor a se levantarem e entrarem na Kombi inutilizada. Os dois se sentam nos bancos traseiros enquanto o cabeludo vai procurar um celular. Para ligar para um reboque.
— Certeza que o Andrey não vai gostar disso... _ Luiz fala.
— Se não fosse aquele cara... tudo isso seria diferente! Seríamos respeitados e temidos... NÓS SERÍAMOS RESPEITADOS!!!
Irado, Victor se debate no banco socando o vidro da Kombi com tanta força quebra enquanto Ryan olhava sem esperança para o teto. No fim, tudo aquilo apenas reascendeu o ódio de Victor contral "aquele cara".
O cara que, em suas costas, havia tatauado o nome:
...𒀹𝙐𝙇𝙏𝙄 𒀹...
...𒀺𝙍𝘼𝙑𝙀𝙎𒀺...
...Epílogo:...
Fora da área do baile, o pequeno aprendiz garoto se despistou do resto dos seguranças e foi se aliviar no matagal.
— Eu com certeza vou conseguir uma promoção por achar aquele cara. Talvez eu finalmente consiga minha arma de bronze! _ ele falava sozinha feliz enquanto urinava ao pé de uma árvore. Sem notar uma presença em suas costas que se aproximava até encostar as mão em seus ombro e dizer ao pé de seu ouvido:
— Tu sabe que X9 morre cedo, né?
Com um pavor profundo lhe tomando por completo, o pequeno só tem tempo de respirar fundo antes de ser decapitado pela figura. Esta que vasculhou seu cadáver até achar um pequeno celular. Imediatamente digitando alguns números nas chamadas de emergência e levando o aparelho até seu ouvido direito e dando uma golada em sua bebida antes de ser atendido e perguntar:
– Alô, aí é do Reboque?
^^^Continua...^^^