Atena-

Ser professora sempre foi um sonho, mas tornar-me professora aos dezoito anos tornou-me a mais jovem da família a se formar, mais eu ainda tinha muitos objetivos a alcançar um deles era levar um projeto social desenvolvido por mim para a maior comunidade da América latina, a rocinha, não seria uma tarefa fácil, mas nada era impossível para mim, atualmente dou aula num reformatório, aqui também não foi fácil, nada é nessa vida, mas hoje consigo conversar e ensinar do meu jeito, agora estou a caminho de outro instituto, onde fui chamada para uma turma que todos os professores desistiram, essa é uma coisa que não existe para mim, eu não desisto fácil, acredito que todos merecem uma nova oportunidade. Chegando ao meu destino recebo a ligação da minha avó, esqueci desse detalhe, vivo com a minha avó desde sempre, os meus pais decidiram que eram novos demais para me criar... _ oi vó. Estou quase chegando... -Respondo saindo dos meus pensamentos.

Lídia: se cuida minha filha, Deus abençoe o seu dia, beijos.

Atena: não se preocupe, vó, beijos, cheguei.-

Desço do ônibus e já entro no local me identificando como nova professora, e a diretora do instituto me diz que o último professor foi furado com um lápis, engulo seco, mas tento mostrar otimismo e seguimos juntas para a sala que agora tem uma grade separando os alunos do professor e um policial se mantém na porta fazendo a segurança, era diferente do outro, que era muito mais tranquilo, confesso que fiquei preocupada... Assim que entro na sala a diretora me entrega alguns papéis e algumas dicas, eles fazem barulhos e riem, comentam sobre mim coisas pejorativas, mas nem dou atenção, estou acostumada a esse tipo de comentário em sala de aula....- Olá, bom dia turma. Era o mesmo que falar com o vento...- bom dia! Falei um pouco mais alto e um rapaz que deve ter uns 17 anos me respondeu…- ninguém aqui vai falar com você, a não ser se eu mandar, e eu não estou afim ... Falou e voltou para a bagunça que eles faziam, eu apenas peguei as anotações e sentei na mesa e comecei a ver que tinham fotos nas fichas e seus nomes e crimes e idade, a escolaridade deles é 7° ano do ensino fundamental, passei o dia fazendo uma ficha avaliativa para cada um do meu ponto de vista começando pelo rapaz de 17 anos que me parece ser o líder deles, Pedro é seu nome, eu fiquei ali algumas horas até que eles se cansaram e ficaram em silêncio.

Pedro: não vai gritar? Ou mandar nós sossegar? — Perguntei confuso, todos os professores agem igual, ela não se importa com a gritaria?

Atena: olá, bom dia Pedro, respondendo a sua pergunta, não eu não vou, estou ocupada trabalhando.

Pedro: seu trabalho é por a gente na linha, ou não?

Atena: não, meu trabalho é ensinar, mas faço isso para aqueles que querem aprender, hoje eu não vim com a intenção de ensinar e sim conhecer, mas já que vocês não estão interessados, eu tenho 30 minutos de “aula” para quem quiser me conhecer, e talvez na próxima aula eu posso conhecer vocês caso vocês queiram.

...- qual foi rato, deixa a gatinha se apresentar rsrsrs.

....- é rato, deixa ela falar rsrsrs.

Pedro: calem a boca! Ela não vai falar nada, tá pensando o quê? Só porque passou na faculdade de piranhagem vai chegar aqui e dobrar a gente?! Sabe quantos professores passou aqui? Tu é a primeira mulher rsrsrs se nem homem colocou moral quem você pensa que é?!

Policial: ou moleque! Senta aí ou entro aí e te ponho no seu lugar!

Atena: tudo bem rs, deixa ele falar, mas alguma coisa Pedro? Não? Ok, eu vou te explicar quem eu sou já que você quer tanto saber, prazer Atena, eu tenho 18 anos e eu fiz um curso técnico para está aqui, eu gosto de ler bastante e de comer hambúrguer rs eu acho que a maioria de vocês gostam de hambúrguer, eu sou tão jovem quanto vocês só que a vida separa as pessoas não em melhor ou pior lugar, mas sim diferentes.

Pedro: o seu tempo acabou, e se você pensa que vai me convencer com esse blá, blá, blá está muito enganada.

Atena: obrigada pela recepção Pedro foi bom conversar com você, até amanhã...- Eu observei o ódio nos seus olhos e sim eu senti medo dele, mas demonstrar fraqueza é o primeiro passo para o fracasso…

Diretora: Atena você fez muito mais do que qualquer outro professor, esse menino não trocou uma palavra com nenhum professor, bom só para ofender, eu vejo um avanço, diz que amanhã está aqui.

Atena: não se preocupe, eu estarei aqui rs.

Diretora : muito obrigada mesmo...

Pedro: vocês são uns cuzão do caralho né! Ficaram pagando pau só porque ela é gata.

Edu: lógico mó gata fiote! Quase da nossa idade rsrs.

Pedro: fiote, fiote, tu é um bundão mermo não é atoa que veio de Sp.

Edu: e tu tá assim porque tem mamãe pra assinar pra você sair, se tu fosse ficar aqui igual eu não fazia essas merdas.

Pedro: assinar? A minha coroa vai vir não menor, se fosse vim já tinha vindo, que se foda também, quem sustenta aquela porra sou eu, quando faltar ela vem me buscar.

Edu: tu não tem pai não?

Pedro: o meu pai sumiu antes mesmo de ver a minha cara, a minha mãe é paraplégica tá ligado? Vende doce em frente casa, com treze eu já tava no movimento, os cana me pegou na viela vendendo as paradas junto com dois mano, eu assumi o B.O, as armas, tudo, pego a visão? o bagulho é cair sem derramar a boca, pego a visão?

Edu: tô ligado, me pegaram roubando na pista mermo.

Pedro: tá maluco, nunca tirei nada de ninguém não fi, meu bagulho é vender e fé...

Sombra: eh dona Tereza! Falei batendo no portão, não sou de falar com ninguém não, mas essa tá merecendo uma atenção especial...- vai abrir essa merda não?! -Falei nervoso.

Tereza: desculpa é essa cadeira, tá horrível...

Sombra: tu vai lá no bagulho e assinar pro menor sair, pego a visão?

Tereza: eu, eu não posso agora .

Sombra: tia tô com respeito porque a senhora já é de idade e teu filho é meu melhor vapor, então dá o papo reto, pra mim não sair da razão contigo. -Falei já sem paciência.

Tereza: ele tem que ficar seis meses lá, estudar e se matricular numa escola aqui fora, só assim posso assinar. Aqui eu tenho o papel dizendo isso.

Sombra: caralho seis meses? -Falei olhando o papel, filhos da puta rapa. Ele faz dezoito quando? – falei entregando o papel.

Tereza: só no final do ano filho.

Sombra: Já é, não vacila com o menor não em, vou te dar uma moral nessa cadeira ai e umas paradas pra tu. -Falei saindo ... Fui direto pra boca, chegando lá encontrei com MT vendo o caderno de anotações. _Qual foi?

MT: cheio de dívida nessa porra, vou sair pra da uma cobrada nesses comédia.

Sombra: pode avisar a geral hoje é tu e semana que vem sou eu e eles não vão gostar que eu vá. -Falei me jogando no sofá.

MT: tranquilo, estou vazando, vai colar no pagode da praça?

Sombra: mó calorão preciso tomar uma pô.

MT: desenrolou a parada do muleque lá com a coroa?

Sombra: dessa vez ele vai ter que esperar pô, seis meses, tem que estudar! Estuda pra que? Porra de lugar que estuda e passa fome porque não tem emprego.

MT: perdi mó tempão estudando e olha aonde vim parar.

Sombra: ih qual foi tá desmerecendo nossa firma pô? Rsrs.

MT: ta ligado que nessa firma só lucra quem tá no banco de cima rsrsrs.

Sombra: rsrsrs, vai adianta sua vida e a minha, vou colar no meu barraco preciso de um banho, te vejo no pagode.... -Falei saindo e seguindo pra casa na minha moto, em menos de cinco minutos eu cheguei, a minha casa é lá no alto mermo mas de moto é rápido, tenho a visão de toda a comunidade, a noite é top, nunca tive nada como muleque então minha prioridade aqui são os menorzinho e mãe solteira essas paradas, antes de eu ser dono, isso aqui era uma lixeira, era montanha de lixo em cada esquina, o morro não tinha asfalto em toda parte, nas casas mas altas não tinha nem água era um vizinho carregando água da casa do outro, quando assumi, a primeira coisa que fiz foi um trato com o prefeito, o safado me cobrou 5 mil por semana pro caminhão do lixo subir duas vezes na semana, asfaltou a comunidade e levou água pra todo mundo, fez até uma praça tudo com meu dinheiro e a cara dele ainda saiu de herói na televisão é foda, mas o importante é que o morro ficou em ordem, aqui temos uma escola só funcionando, a maioria das crianças estudam no asfalto por falta de vaga, essa é outra parada que quero resolver, tem uma escola abandonada aqui na parte mas alta tô querendo abrir essa porra de novo pra facilitar a vida dos meno, todo mês distribuímos cestas básicas na praça mas o bagulho é mó bagunça e não tem ninguém pra organizar essa porra, gás também distribuímos, ajudo como posso a comunidade, quero o melhor, mas não vem me tirar de otário não que não vai rolar, comigo vacilou é vala! Não tem essa de surra, corta isso corta aquilo, a lei aqui é uma só, vacilou é vala não tem kaô comigo, não aceito que faça covardia com criança, estupro, roubo, talaricagem tá maluco todo dia era um porradeiro na praça pra separar por causa de macho, cortei logo essa gracinha, se ficar se estapeando largo logo um tirão e acaba a palhaçada, pra trabalhar pra mim tem que ter no mínimo quinze anos porque já sabe o que faz, pra mim não é criança mais, rato foi meu mas novo contratado entrou com treze porque já tinha visão tá ligado, se pede emprego pra mim tá fazendo contrato com diabo não aceito que me roubem, então tu tem que ser bom de tiro e de conta se meter a mão no meu bagulho passa pro andar de baixo sem leme filhão, tem kaô comigo não, não obrigo mulher nenhuma a vir me procurar se veio é porque aguenta então não fica de cu doce pro meu lado, nunca assumi relacionamento com nenhuma, tenho umas puta fixa que deve gastar mas do que se eu tivesse uma fiel, puta que pariu te falar o mulherzinha pra pedir dinheiro, mas o sexo com ela é gostoso então isso que importa, tá me satisfazendo então eu tô bancando quando aparecer uma melhor eu troco e não engano ninguém deixo tudo muito claro ... Termino meu banho, enrolo a toalha na cintura e saio do banheiro vejo que dona do Carmo já deixou a roupa separada e passada em cima da cama, Ela trabalha pra mim a uns anos, mora aqui na comunidade mesmo espalhei por aí que precisava de uma cozinheira e alguém que mante-se isso arrumado, choveu de novinha atrás da vaga mas descartei todas, quero solução não dor de cabeça, prefiro dona do Carmo porque quando cheguei na comunidade foi ela que me deu um teto, eu já ajudava ela mas ela disse que queria continuar cuidando de mim então eu permitir que ela trabalhasse aqui em casa, tá bom que ela já conhece meus gostos, não trago mulher pra cá, bagunça só no meu outro barraco, faço uns churrascos maluco aí de vez enquanto mas só com meus aliados nada de mulher na parada, cachorrada nós faz em outro lugar meu barraco não é bagunça, termino de me arrumar e desço as escadas, quando tô saindo escuto ela gritar ...-“ não vai comer?”

Sombra: foi mal tô atrasado...

Carmo: é estrogonofe. -falei saindo da despensa.

Sombra: então eu como rsrsrs. - falei voltando

Carmo: precisa comer melhor, só tem porcaria nessa despensa, cadê a comida de verdade?

Sombra: tô enjoado de comida, tô afim de uns lanchão brabo .

Carmo: parece até uma criança, amanhã vou sair e fazer umas compras de verdade.

Sombra: já é, tá top isso aqui porra papo reto.

Carmo: olha a boca! E me respeite menino.

Sombra: desculpa, a senhora tem noção que só tu fala nesse tom comigo? Te respeito pra cara... Caramba rsrs papo reto, sou mó agradecido por tudo, não é qualquer um que bota marmanjo velho já dentro de casa não .

Carmo: eu vi bondade em você, eu nunca tive filhos então Deus me entregou você.

Sombra: esse teu deus aí quis te ferrar então colocando alguém como eu na tua vida.

Carmo: misericórdia senhor! Eu espero que Deus não dê ouvidos às besteiras que você fala! Só pela misericórdia senhor, só pela misericórdia!

Sombra: rsrsrs, quanto medo, nós tem que ter medo de quem tá vivo aqui pô.

Carmo: quem te falou que meu Deus é um Deus morto? Eu sigo a um Deus vivo! E não tenho medo dele, tenho respeito, e você também deveria ter.

Sombra: quando tu tiver na igreja avisa ao teu Deus que eu respeito quem eu bem entender, não conheço ele como nada... -Falei saindo.

Carmo: Amenadiel! Amenadiel! Seu, seu moleque atrevido! Meu Deus, por favor não castigue o meu menino, ele sofreu tanto...

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